Alta da inflação e economia estagnada prejudicam geração de emprego decente
Enquanto o mercado aposta em mais inflação, mais juros e queda do PIB, emprego informal, sem direitos, segue batendo recordes sem perspectivas de melhora
A disparada da inflação, que cria entraves ao crescimento da economia e, consequentemente, derruba a geração de empregos, é uma péssima notícia para os milhões de trabalhadores e trabalhadoras desempregados e os que foram obrigados a aceitar empregos precários para sobreviver com um mínimo de dignidade.
Enquanto o mercado aposta em mais inflação, mais juros e queda do Produto Interno Bruto (PIB), o emprego informal, sem direitos, segue batendo recordes sem perspectivas de melhora.
“Estamos no pior dos mundos”, afirma a técnica da subseção do Dieese da CUT nacional, Adriana Marcolino.
“Um grande contingente de desempregados pressiona para o rebaixamento das condições de trabalho. Desse modo, quem consegue um emprego ocupa uma vaga precária ou informal, que não garante a segurança necessária para trabalhadores, trabalhadoras e suas famílias”, explica Adriana.
E o futuro não é nada animador. Segundo o Boletim Focus do Banco Central (BC), com projeções de mais de cem instituições financeiras, empresas e consultorias do país, a inflação do Brasil neste ano será a maior desde 2015, mas deve desacelerar para a metade disso em 2022, mas muitos economistas duvidam que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação no país, caia no ano que vem.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que tem dados concretos e não estimativas do mercado, revelou que quase 70% do aumento da população ocupada no trimestre móvel encerrado em agosto, frente ao trimestre anterior, veio de trabalhos informais, sem direitos garantidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), como 13º salário, férias, descanso semanal remunerado entre outros.
De acordo com a pesquisa, a população ocupada avançou em 3,480 milhões de trabalhadores no período, mas do total, 2,387 milhões (68,5%) tiveram de recorrer ao trabalho informal para sobreviver.
É o trabalho informal que tem contribuído para a redução do desemprego no país, reconheceu a coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy, em entrevista ao jornal Valor Econômico.
“É nítido que o que contribui para aumento da ocupação são os trabalhadores informais. A maior parte vem dos trabalhadores sem carteira assinada, com 987 mil, seguida pelas contas própria sem CNPJ, que avançaram 843 mil. Com isso, se chega à taxa de informalidade de 41,1%”, afirmou Beringuy à reportagem.
De acordo com o IBGE, entre o trimestre encerrado em maio e o encerrado em agosto, a população ocupada total aumentou de 86,708 milhões de trabalhadores para 90,188 milhões – alta de 4%.
No mesmo período, a população ocupada informal subiu de 34,712 milhões para 37,099 milhões – alta de 6,9%.
Já a população ocupada formal passou de 51,996 milhões para 53,089 milhões – alta de 2,1%.
O número de trabalhadores por conta própria atingiu novo recorde e chegou a 25,409 milhões de pessoas, o que representa uma alta de 4,3% (mais 1,0 milhão de pessoas) frente ao trimestre móvel anterior, encerrado em maio.
Esse grupo é formado por trabalhadores sem vínculos empregatícios e, em média, têm renda inferior à dos demais trabalhadores, assim como os informais.
“A queda dos rendimentos do trabalho é resultado deste cenário de alta do desemprego e a consequente precarização, em um contexto de alta inflacionária que corrói o poder de compra da classe trabalhadora”, explica Adriana Marcolino.
“E diante de tudo isso, não temos uma política consistente de retomada da economia que inclua todos e todas”, acrescenta a técnica do Dieese se referindo à falta de propostas efetivas de geração de emprego por parte do governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL), que até agora não apresentou sequer uma médica neste sentido.
Entenda os termos usados pelo IBGE
Pessoas ocupadas
Número de pessoas trabalhando mesmo que seja apenas fazendo bicos de pedreiros e eletricistas ou vendendo qualquer coisa n os faróis.
Pessoas desocupadas
Desempregados que continuam procurando empregos e não viraram informais nem por conta própria.
O que é trabalho informal
Pessoas empregadas no setor privado sem carteira assinada, pessoas que ajudam parentes, trabalhadores domésticos sem carteira assinada e trabalhadores por conta própria sem CNPJ (isto é, sem empresa constituída), camelôs etc.
O que é trabalho por conta própria
Trabalhadores que constituiram empresas, têm CNPJ, são conhecidos como autônomos, que prestam serviços e emitem notas fiscais.
Taxa de desemprego
É a parcela das pessoas que estão na força de trabalho, disponíveis para trabalhar e que tentam encontrar emprego, mas não conseguem.
O que é força de trabalho
Força de trabalho é a soma das pessoas disponíveis para trabalhar com aquelas que estão trabalhando, que o IBGE define como ocupadas.
Da CUT.