Ao cavalo dado, que olhemos os dentes

Em pleno período eleitoral, e com claro interesse eleitoral, o atual governo brasileiro decidiu soltar um gigantesco pacote de estímulo à economia, buscando compensar o fraco desempenho de todo o mandato: saque extraordinário do FGTS, antecipação do 13º salário para aposentados e pensionistas, vale gás, vale caminhoneiro, vale taxista e aumento para R$ 600 no Auxílio Brasil, sem contar a redução artificial e temporária do preço dos combustíveis.

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Desde agosto, início da campanha eleitoral, foram cerca de R$ 21 bilhões adicionais aos beneficiários desses programas.

Mas o avanço forçado da economia já mostra que não tem sustentação. O nível de atividade econômica do país registrou queda de 1,13% em agosto na comparação com julho, de acordo com o IBC-BR (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), usado como prévia do PIB.

O mau desempenho da economia brasileira não pode ser creditado à pandemia. De acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), o Brasil ocupa a 32ª posição num ranking de crescimento econômico de 50 países, nos últimos três anos. O PIB brasileiro cresceu em média 0,59% ao ano, enquanto a média mundial foi de 1,54%.

É neste contexto que o ministro Paulo Guedes revelou um plano para mudar o reajuste do salário mínimo, deixando de atualizá-lo pela inflação, e na prática congelando o seu valor. A tentativa de “comprar” votos por meio das benesses relatadas pode então trazer uma fatura a ser paga por pelo menos 80 milhões de trabalhadores, ativos ou aposentados, que tem sua remuneração com base no salário mínimo. Salário mínimo que por sinal, está entre os dois valores mais baixos em uma lista de 31 países publicada pela OCDE, à frente apenas do México. Apenas uma reversão completa da política econômica, com a valorização do consumo das famílias e do salário mínimo, poderá impedir que a precarização seja ainda pior do que hoje. 

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