Ao traçar panorama, petistas apostam em ´nitidez´ da comparação com PSDB

Expor problemas de Aécio em Minas Gerais e comparar gestões de FHC, Lula e Dilma serão a tônica do segundo turno. Leitura é de que embate contra senador será duro, mas partido chegará à quarta vitória

A palavra de ordem na campanha à reeleição da presidenta Dilma Rousseff (PT) é “nitidez”. No primeiro dia após conhecidos os resultados do primeiro turno, líderes do partido traçaram a avaliação de que o enfrentamento com o tucano Aécio Neves no segundo turno deve facilitar a situação da petista, pois o comparativo entre os oito anos da gestão Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) com os oito anos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e a atual gestão de Dilma é positivo para o PT. Será a quarta vez seguida que petistas e tucanos se encontram no segundo turno. Até agora, o placar é favorável em três a dois para o partido do governo.

Confiante, o deputado federal reeleito pelo Rio Grande do Sul Henrique Fontana (PT) acredita que a presidenta e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) vai herdar votos de Marina Silva – que ficou em terceiro lugar na disputa com 21,32% dos votos – e mesmo de Aécio Neves (PSDB), com quem disputará o segundo turno.

“É muito mais fácil dar nitidez aos projetos que estão em disputa em um enfrentamento direto com ele. Vamos mostrar que aquilo que o Aécio contou na televisão sobre Minas Gerais não é bem assim. Tanto que ele perdeu as eleições lá. Se fosse essa maravilha que ele disse, o candidato dele tinha de ter ganho a eleição ou, pelo menos, disputar o segundo turno. Essa derrota é muito significativa”, avaliou Fontana.

Neste primeiro turno Aécio perdeu para Dilma em Minas Gerais. A petista teve 43,48% dos votos e o tucano, 39,75%. Além disso, o candidato dele para o governo do estado, Pimenta da Veiga (PSDB), perdeu o pleito para Fernando Pimentel (PT), eleito no primeiro turno com 52,98% dos votos. Pimentel foi ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do governo Dilma.

Fontana reconheceu que Aécio teve espaço para colocar seu discurso de forma confortável no primeiro turno, já que a campanha petista estava voltada para o enfrentamento com Marina. Mas disse que sempre trabalhou com a perspectiva de haver segundo turno.

Para o deputado, o chamado mano a mano vai facilitar para a presidenta. “O Aécio vai ter de responder muita coisa que antes não havia tempo de questioná-lo.” Mesmo assim, ele espera um embate muito duro. “O país vai se polarizar muito.”

O integrante da Executiva Nacional do PT Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, também defendeu que uma disputa contra Aécio no segundo turno é melhor do que um confronto com Marina. “Desde a eleição de 2012 tínhamos claro que a eleição de 2014 ia ser resolvida no segundo turno e em uma disputa duríssima. Para nós não é surpresa. Mas imaginamos que seria ainda mais duro se fôssemos para o segundo turno com uma candidatura aliada à base do governo.”

Para Pomar, a população terá mais facilidade de separar as propostas e a visão de mundo representada por Dilma das perspectivas em torno de Aécio. “Ele é um playboy, representante do capital e dos setores da elite. É jogo claro, o que não significa jogo fácil. São dois projetos distintos para o país, que vão se enfrentar pela sétima vez desde 1989”, disse.

O dirigente também fez críticas ao fato de o PT não ter conseguido garantir um processo de reforma política, nem de democratização dos meios de comunicação, mudanças inadiáveis, em sua visão.

A avaliação é compartilhada pelo deputado federal reeleito Paulo Teixeira (PT-SP), que acredita que o segundo turno vai facilitar a associação às propostas do PSDB com a imagem de perda de direitos, ao arrocho salarial e ao desemprego, problemáticas colocadas durante o primeiro turno, mas que perderam força quando o enfrentamento se direcionou para Marina, que vinha crescendo nas pesquisas.

Para Teixeira, o aceno de Marina ao PSDB – afirmando que o Brasil não quer mais “o que está aí, do jeito que está aí” – não pode ser considerado acima da posição do próprio PSB. “Marina não é o PSB. O PSB não é um partido que tenha identidade com os tucanos. E tem uma esquerda no PSB”, defendeu.

O prefeito de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, Luiz Marinho (PT), também acredita que Dilma deve recuperar votos que foram para Marina. Na cidade administrada por ele, a candidata do PSB subiu de 19% para 25% e, em Mauá, de 20% para 36%, em relação à votação de 2010. “Aqui (no ABC), ela tirou muito voto natural da Dilma, voto nosso, que acabou migrando para ela”, destacou Marinho, que coordena a campanha de Dilma no estado.

Marinho espera uma disputa muito difícil com Aécio Neves no segundo turno, mas acredita que a vantagem da presidenta – cerca de 9 milhões de votos – deve prevalecer. “Creio que o resultado da presidenta no primeiro turno não deixa à margem a possibilidade de ganhar no segundo turno, assim como em 2002, 2006, 2010”, ressaltou.

O senador gaúcho Paulo Paim (PT-RS) avalia, no entanto, que a campanha precisa apresentar propostas de futuro e que a população não quer mais do que ficar revivendo o passado. “O povo sinaliza que quer algo mais do que fizemos até agora. Temos que dizer com muita clareza o que pretendemos fazer daqui pra frente. O sinal amarelo acendeu.”

Da Rede Brasil Atual