Após pacote do governo, venda de carros sobe 50%

Volume de veículos comercializados chegou a ser 50% maior na comparação com os quatro fins de semanas anteriores, segundo balanço das montadoras; fluxo de visitantes nas lojas também aumentos

As vendas de automóveis voltaram a apresentar tendência de recuperação no primeiro fim de semana após o pacote de medidas lançado pelo governo federal. Ontem (15), o sentimento verificado no setor é de que depois do repasse imediato da redução ou isenção de IPI (conforme o modelo), aliado ao esforço de vendas de todas as montadoras, o volume de veículos comercializados chegou a ser 30% maior na comparação com os quatro fins de semanas anteriores. Mas mesmo assim, até sexta-feira, o acumulado do mês ainda apresenta uma queda de 4,4% em relação ao mesmo período de novembro.
De acordo com um representante da indústria automobilística, a percepção do setor é de que o ambiente para as vendas começou a melhorar, o que já foi comemorado pela indústria automobilística nacional, que vem registrando quedas consecutivas desde o agravamento da crise financeira mundial, em meados de setembro.
Segundo ele, um modelo popular, avaliado em R$ 27 mil nas tabelas de referências utilizadas pelas concessionárias, saiu por até R$ 23,5 mil no fim de semana. “As revendas já estavam dando descontos, mas com a redução do IPI os preços ficaram ainda mais atrativos”, acrescentou.
O fluxo de visitantes nas lojas também aumentou, assim como as vendas. O resultado do fim de semana deverá ser percebido até sexta-feira, quando os emplacamentos começam a ser contabilizados no sistema do Renavan. Entre hoje e amanhã, a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) divulga o balanço da primeira quinzena de dezembro. Em novembro, a queda nas vendas de automóveis e comerciais leves foi de 35% na comparação com outubro.

Na última quinta-feira, o governo federal anunciou, entre outras medias, que o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) cobrado sobre veículos ficou menor. A alíquota do IPI para carros com motor até 1.0 caiu de 7% para zero. Nos carros movidos a gasolina e com motorização entre 1.1 e 2.0, o imposto caiu de 13% para 6,5%. Nos carros que aceitam gasolina e álcool (flex), caiu de 11% para 5,5%. A carga do IPI ficou mantida em 25% (gasolina) e 18% (flex) para motores acima de 2.0. No caso das picapes leves (motor até 1.0), a alíquota caiu de 8% para 1%. Se o motor dessas picapes tiver cilindrada entre 1.1 e 2.0, o imposto é reduzido de 8% para 4%.

Montadoras – A queda no IPI dos carros novos deu fôlego ao mercado automotivo no último final de semana. Balanço das montadoras indica aumento de até 50% nas vendas por conta da redução nos preços finais dos veículos.

Entre sexta e domingo, a Ford vendeu 4.250 unidades no país, contra uma média de 2.800 para esses três dias no período após o agravamento da crise global, em outubro. Trata-se de desempenho recorde em um final de semana, de acordo com a montadora.

Já a GM vendeu, só na Grande São Paulo, 1.300 carros entre sábado e domingo, volume 30% maior do que o registrado no final de semana anterior, afirmou o gerente regional de marketing e vendas da montadora, Rodrigo Rumi.

“Isso foi resultado do repasse integral da redução do imposto sobre os preços promocionais e também do financiamento, que agora voltou a crescer”, disse Rumi. Para alguns modelos, o abatimento no valor chegou a até R$ 3.500. “E cerca de 40% das nossas vendas foram feitas em 60 meses.”

A Fiat estima que seus negócios tenham aumentado em 30% no último final de semana, com uma média de 2.500 veículos vendidos por dia no período em todo o país.

Na última sexta, um dia após o governo reduzir para zero o IPI do carro popular e diminuir a alíquota para outras categorias de veículos, as principais montadoras propagandeavam o repasse integral para o preço ao consumidor.

“O que vimos foi uma grande movimentação e muitos fechamentos de negócios. O consumidor esperava um incentivo, e isso apareceu”, afirmou o presidente da Fenabrave (associação das concessionárias), Sérgio Reze. O próximo balanço de vendas da entidade, referente à primeira quinzena de dezembro, deve ser divulgado entre hoje e amanhã.

Para Rumi, da GM, o mercado automotivo deve ter um bom desempenho ao menos até março, enquanto vigorar a redução do IPI. “Teremos um período de oportunidade. Aqueles que não compraram o carro em outubro e novembro, por causa da crise, vão comprar agora.” No mês passado, as vendas da indústria automotiva caíram 25% no país.

“Consumidor na mesma”
Como conseqüência da queda nos preços do carro zero, por conta do IPI, o mercado de usados passa agora por nova onda de depreciação. Assim, o consumidor que oferece seu veículo como entrada para adquirir um novo não sente o benefício integralmente, diz Armando Boscardin, presidente da Abrac (Associação Brasileira de Concessionárias Chevrolet).

“Existe uma readequação no mercado. O preço do usado cai na mesma proporção do novo. Então, o consumidor que oferece o carro dele como troca não economiza tanto”, diz Boscardin. Segundo ele, 65% das pessoas que compram carros novos estão nessa situação.

Para o supervisor de veículos novos da Brasilwagen, João Fernandes, o governo “se esqueceu dos carros usados”. “O consumidor que tem o carro usado fica na mesma [com a redução do IPI], porque o seu bem agora vai valer até 10% menos”, afirma. Desde o início da crise, o preço dos usados já caiu entre 30% e 40%, segundo informações da Fenabrave.
Segundo Fernandes, essa depreciação impõe maior prejuízo ao concessionário, que teve de formar estoques de usados.

 

Presidente Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, no programa de rádio Café com o Presidente, estar certo de que as medidas anunciadas pelo governo na semana passada para combater a crise reduzirão os preços das mercadorias e a taxa de juros no país. Durante reunião da coordenação política, ontem, no Palácio do Planalto, Lula e os ministros avaliaram que as iniciativas – especialmente a redução do IPI sobre os veículos – já surtiram efeitos no fim de semana.
Lula baseou-se em carta, recebida na sexta-feira e assinada pelo presidente da Ford, Rogélio Goldfarb. Nela, o executivo confirmou que a empresa repassará integralmente aos consumidores os descontos de IPI oferecidos pelo governo. E mais: os descontos não ocorrerão apenas sobre preços de tabela, mas também sobre os promocionais, um desconto sobre o desconto já oferecido. “Queremos parabenizar o presidente pelas medidas e dizer que a Ford manterá os planos de investimentos para o país”, declarou Goldfarb.
Lula afirmou que a reunião de quinta-feira, com 30 empresários de diversos setores, foi o melhor encontro entre governo e setor produtivo do qual ele participara. “Eram grandes empresários, todos preocupados e cheios de disposição para ajudar o país a enfrentar essa crise de cabeça erguida e dar a volta por cima”, afirmou.
Em relação aos juros, Lula também teve uma boa notícia na manhã de ontem. O boletim Focus, feito pelo Banco Central e que mede o humor do mercado, apontou uma tendência de redução na taxa Selic para 2009.
O emprego continua sendo a maior preocupação do presidente. “Nós discutimos (durante o encontro empresarial) para que nenhum empresário dispense trabalhador, que é importante manter o nível de emprego. Assumi o compromisso de conversar com os dirigentes sindicais para saber da possibilidade de estabelecermos acordos em alguns setores que foram mais afetados”.
O presidente disse ainda que o evento não foi isolado e que pretende reunir-se com entidades sindicais e representantes de outros setores da economia nacional, “para que a gente vá fazendo os ajustes necessários, em função da cadeia produtiva de cada setor”.
Lula e o ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro, ressaltaram, durante a reunião de coordenação, a importância de se aprovar, esta semana, o Fundo Soberano, que tramita no Senado, e Orçamento Geral de 2009, na Comissão Mista de Orçamento.

Valor Econômico, Folha de S.Paulo e Agência Brasil