Artigo: O trabalhador pode ter sua voz
Quem acompanha o movimento sindical sabe que os trabalhadores
acalentam
um sonho antigo: ter um veículo de
comunicação que seja sua voz e que repercuta seus
anseios. Nosso sonho enfrentou inúmeros desafios para ser
concretizado. Algumas entidades conseguiram, por algum tempo,
viabilizar a manutenção de veículos
próprios – mas a um alto custo e chegando a um
grupo limitado de trabalhadores. Quando, finalmente, 23 dos maiores
sindicatos do país conseguiram unir esforços para
materializar esse sonho, foi lançada a Revista do Brasil.
A publicação nasceu mensal com tiragem de 360 mil
exemplares distribuídos aos sócios dessas
entidades no estado de São Paulo e nas cidades do Rio de
Janeiro, Brasília e Porto Alegre. Metalúrgicos,
bancários, químicos, professores, profissionais
da área de saúde, eletricitários,
entre outros – com a cooperação de
profissionais da comunicação e intelectuais
– viabilizaram esse projeto, que já resultou em
três edições da Revista do Brasil
distribuídas em junho, julho e agora em agosto.
Os trabalhadores e seus familiares ganharam acesso a
notícias sobre política, economia,
saúde, comportamento, esporte, história, dicas de
lazer, cultura e, especialmente, sobre o mundo do trabalho, agora de
acordo com a sua perspectiva. O primeiro número trouxe na
capa o presidente Lula, numa reportagem que analisa os motivos que o
levam a permanecer com popularidade em alta, mesmo levando uma
pancadaria sistemática dos meios de
comunicação há mais de um ano.
A edição de julho destacou o impacto das
demissões anunciadas pela Volkswagen na vida de seus
operários, matéria rara em outros
veículos de comunicação, já
que o comum são as editorias especializadas abordarem esses
temas sob a ótica das empresas e suas
“necessidades”. Esta terceira
edição alerta sobre a importância das
eleições e como seu resultado mexe com vida das
pessoas e do país, goste-se ou não do assunto.
Mas nem todo mundo gostou da nossa revista. A
coligação PSDB-PFL entrou com
representação junto ao Tribunal Superior
Eleitoral contra a regional São Paulo da Central
Única dos Trabalhadores (CUT) para que tirasse do ar a
primeira edição da Revista do Brasil. A
coligação alegava que algumas matérias
visavam “ressaltar a suposta força eleitoral do
presidente da República” e outras faziam
“propaganda negativa” do candidato Geraldo Alckmin,
ambas reportagens baseadas em fatos, em dados. No dia 26 de julho, o
ministro Carlos Alberto Menezes determinou a retirada da Revista
nº 1 do ar.
Nós, dirigentes sindicais responsáveis pela
Revista do Brasil, acreditamos na liberdade de expressão e
na Justiça como pilares essenciais à democracia.
A Associação Nacional de Jornais
mantém, em parceria com a Unesco, uma Rede em Defesa da
Liberdade de Imprensa e prega: “A defesa da liberdade de
imprensa certamente contribui para o fortalecimento das
instituições democráticas no
país. Esse é um trabalho incessante em favor da
sociedade, sobretudo, que por ter direito constitucional à
informação deve defender a imprensa
livre…” Realizar o sonho de fazer a Revista do Brasil,
é realizar o sonho da liberdade democrática. Onde
está escrito que o trabalhador não pode ter sua
voz?
Luiz Cláudio Marcolino, presidente do Sindicato dos
Bancários de São Paulo, Osasco e
Região, e José Lopez Feijóo,
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC –
diretores responsáveis pela Revista do Brasil
Revista do Brasil – Edição 03