As pessoas são prioridade

Diretor da OIT defende que os governos dêem também proteção aos trabalhadores diante da crise da agiotagem e não olhem apenas para os bancos

Os trabalhadores têm tanto direito de serem salvos da crise quanto os bancos. A afirmação é do chileno Juan Somávia, diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), para quem os governos devem se preparar desde já para proteger trabalhadores e suas famílias dos efeitos da crise. As empresas, lembra ele, também têm responsabilidade, pois podem dividir os ganhos de produtividade com os trabalhadores.

Para o dirigente, o mundo deve considerar as pessoas uma prioridade. “Se nos concentrarmos só em restabelecer a vida do sistema financeiro, e não a vida e as condições das pessoas, vamos ter um problema social muito sério. É preciso assegurar que as pessoas possam continuar a consumir. Ter acesso à proteção social e contra o desemprego”, recomenda.

Produtividade

Uma das sugestões de Somávia é vincular melhor produtividade a salários e crescimento do emprego. Um estudo da entidade mostrou que o Brasil, por exemplo, registrou consistente alta produtividade que não foi acompanhada de elevação salarial. Segundo o Dieese, a produtividade industrial brasileira aumentou em 140% desde o final dos anos 80.

Ele observou que bem antes da crise financeira, o mundo já enfrentava uma crise de pobreza, crescente desigualdade social, aumento da economia informal e trabalho precário. “São  processos decorrente da globalização, que trouxe muitos benefícios, mas tem sido desequilibrado, injusto e insustentável”, protestou.

Como exemplo, Somávia cita a América Latina, região na qual mais da metade dos empregos está na economia informal, sem proteção social e pagamento 43% inferior a quem tem emprego com carteira assinada.

“Trabalho não é mercadoria”

Para o diretor da OIT, o atual modelo econômico desvalorizou o papel do Estado, supervalorizou o papel do mercado, e não ouviu muito a voz democrática da sociedade. O resultado disso são políticas que criaram muitas desigualdades. “Há um total desequilíbrio em favor do sistema financeiro. Há uma financialização da economia real”, compara.
Essa ordem deveria ser invertida, comenta Somávia.

De acordo com ele, é preciso trazer o sistema financeiro de volta à sua função: alimentar a máquina produtiva, para emprestar dinheiro para criar empregos e gerar produtos.

Isto porque, afirma a OIT, a participação do trabalho na riqueza mundial está baixando. Significa que as políticas estão favorecendo o capital contra o trabalho. “Trabalho não é uma commodity (termo inglês para produto negociado em bolsa de mercadorias). Trabalho é fonte de dignidade, estabilidade da família, da casa e de paz na comunidade. Não se pode tratar trabalho como mercadoria”, finaliza Somávia.