Assassinato do casal Silva no Pará causa indignação
CUT exige apuração dos crimes e punição aos assassinos dos militantes defensores da floresta
A Central Única dos Trabalhadores recebe com indignação a notícia do assassinato do casal de castanheiros José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, ocorrido na manhã desta terça,dia 24, no Pará.
Lamentamos que algo semelhante, a perseguição e morte de líderes populares e sindicais, continue ocorrendo com tal frequencia em nosso País – sem falar nas mortes que não ganham as páginas de jornal.
A CUT exige justiça e entrou com um pedido de audiência urgente junto à Ouvidoria dos Direitos Humanos para que apurações sejam rigorosas e punições severas sejam aplicadas aos culpados.
O campo não pode ser uma terra sem lei. Queremos um novo patamar de relação para Brasil com a questão fundiária e agrária, que não seja a “bala na cabeça”.
O campo não pode ser uma terra sem lei. Chega de impunidade!
Executiva Nacional da CUT
Leia relato da BBC Brasil sobre a morte dos castanheiros:
A presidente Dilma Rousseff determinou que a Polícia Federal investigue o assassinato do líder extrativista e castanheiro José Claudio Ribeiro da Silva e sua esposa, Maria do Espírito Santo da Silva, ocorrido na manhã desta terça-feira.
Conhecido por denunciar a ação ilegal de madeireiros na região, o casal foi morto a tiros na cidade de Nova Ipixuna, no sudeste do Pará. Eles estavam em uma estrada que levava ao projeto assentamento agroextrativista Praialta Piranheira, onde viviam.
O assassinato do casal foi discutido na manhã desta terça-feira durante uma reunião entre Dilma e ex-ministros do Meio Ambiente, que pediam o adiamento da votação do novo Código Florestal, remarcado inicialmente para esta terça-feira.
A ex-ministra Marina Silva comparou a morte de José Cláudio ao assassinato, em fevereiro de 2005, da missionária Dorothy Stang, em Anapu, no Pará.
A sobrinha do casal, Clara Santos, disse à BBC Brasil que os tios vinham sendo intimidados há muitos anos. “Eles sofriam ameaças de morte desde 1997, quando meu tio foi escolhido para ser presidente fundador do projeto”, disse.
Clara, cujo pai é irmão de Silva, afirma ainda que as ações vinham se agravando nos últimos tempos.
“Há mais ou menos um mês, à noite, atiraram no cachorro deles, que estava no quintal. E quando eles não estavam, iam lá e reviravam a cozinha, que ficava separada do restante da casa”, disse.
“Eles sempre denunciavam as ameaças, mas só às vezes as autoridades iam atrás das histórias, para investigar. Normalmente ninguém fazia nada.”
´Bala na cabeça´
Silva, que vivia da extração da castanha e de outros produtos da floresta, falava das ameaças abertamente.
Em uma entrevista sobre sua participação no fórum TEDx Amazônia, realizado em 2010, ele afirmou: “Luto pela floresta viva. Um bem que fica para as futuras gerações. Mas devido ao meu trabalho sou ameaçado pelos empresários da madeira, os camaradas que não querem ver a floresta em pé.”
Durante a palestra no evento internacional, que discutiu como tema a qualidade de vida no planeta, ele foi ainda mais incisivo:
“Vivo da floresta, protejo ela de todo jeito. Por isso, eu vivo com a bala na cabeça a qualquer hora. Porque eu vou para cima, eu denuncio os madeireiros, denuncio os carvoeiros e, por isso, eles acham que eu não posso existir.”
“A mesma coisa que fizeram no Acre com Chico Mendes, querem fazer comigo. A mesma coisa que fizeram com a irmã Dorothy, querem fazer comigo. Eu posso estar hoje aqui conversando com vocês, daqui a um mês vocês podem saber a notícia que eu desapareci.”
“Me perguntam. Tem medo? Tenho. Mas o meu medo não me empata. Enquanto eu tiver força para andar, estarei denunciando aqueles que prejudicam a floresta.”
Da CUT Nacional