Até FHC admite e diz que Brasil está bem para a crise
Tucanos alinhados com avaliação do governo sobre a economia brasileira
Integrantes do governo tucano, como Fernando Henrique Cardoso, Armínio Fraga e Joaquim Levy, expuseram a condição privilegiada do Brasil diante da crise financeira internacional.
“O país está bem posicionado em relação a outras economias”, reconheceu FHC, durante o Fórum Econômico Mundial da América Latina, no Rio, embora tenha feito críticas ao atual governo. “Estamos com ótima saúde”, completou o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. O presidente Lula foi aplaudido ao afirmar que o FMI deve emprestar dinheiro sem as condições impostas no passado.
Em encontro realizado no Rio, FHC e ex-membros do antigo governo apontam falhas, mas admitem que economia brasileira vai bem frente à crise
Que o presidente Lula, empresários e governantes de outros países falariam bem da economia brasileira no Fórum Econômico Mundial da América Latina, todos esperavam.
Fato raro foi ouvir dos protagonistas do ex-governo tucano um discurso alinhado com o dos petistas. Fernando Henrique Cardoso, Armínio Fraga e Joaquim Levy expuseram no evento a condição privilegiada do Brasil diante da crise financeira.
As perspectivas para o país na ótica de alguns destes são até melhores que a do mercado. Mas a avaliação positiva dos três não livrou o governo atual de algumas críticas.
O ex-presidente da República afirmou que a economia brasileira, “sem dúvida”, está bem posicionada em relação a outras economias afetadas pela crise, após ser indagado sobre o assunto. Para o sociólogo FHC, a duração da crise é imprevisível e suas causas não começaram no Brasil.
– O Brasil tem uma situação melhor e a crise não foi aqui. Quando acabar o incêndio e virmos o que sobrou, o Brasil vai estar relativamente bem, comparado a outros países – afirmou.
Na plenária de abertura do Fórum, Lula também fez questão de absolver o Brasil das causas da crise econômica.
– Não criamos o problema, mas somos parte fundamental da solução.
É preciso fazer a economia global voltar a funcionar – disse.
O presidente foi aplaudido quando afirmou que o Fundo Monetário Internacional e outros organismos de fomento e de crédito devem direcionar seus esforços para as economias mais necessitadas, “sem demora” e sem as condições impostas no passado pela cartilha do FMI. Lula também destacou que a crise evidenciou preços irreais de petróleo e alimentos, que dispararam e prejudicaram os mais pobres.
Além de apontar que o Brasil esteve e continua longe de contribuir para a ciranda financeira que provocou a quebra dos mercados financeiros, Armínio Fraga destacou como a demanda interna vinha crescendo expressivamente. O ex-presidente do BC lembrou do aumento de 8% do consumo às vésperas da crise. E que os bancos brasileiros estão saudáveis, ao contrário de muitos nos países ricos.
– Não vemos nenhum desses desequilíbrios que quebraram o mundo aqui no Brasil – disse. – Eu tendo para o otimismo no sentido de que vamos sair da recessão no segundo semestre, mas não sei qual será a velocidade do crescimento.
Sócio da Gávea Investimentos, Fraga avalia que o Brasil crescerá 1% este ano, taxa mais positiva que a projetada pelo boletim Focus, que prevê retração de 0,19%.
Ex-secretário do Tesouro, Joaquim Levy também expôs que o Brasil está numa situação confortável, com a inclusão de “mais pessoas na economia de mercado”.
O estrategista para mercados globais da Accenture, Mark Spelman, elogiou a saúde financeira do país.
– Sobre alguns fundamentos econômicos, países que têm elevados déficits, tanto governamental quanto corporativo, estão em situação mais frágil. A economia brasileira vai bem – analisou Spelman. – O governo está com superávit e tem adotado uma politica econômica e fiscal mais conservadora. Acho que o Brasil está em muito mais vantagem do que paises europeus. Reino Unido e Espanha são exemplos de pouca estabilidade no crédito.
Mas Levy, secretário estadual de Fazenda do Rio de Janeiro, destacou desafios que o Brasil tem pela frente, como melhorar a educação.
Outro ponto fraco da nossa economia, segundo Fernando Henrique Cardoso, é o tamanho dos investimentos públicos.
– O PAC não representa nem 1% do PIB – cutucou.
Fernando Henrique também criticou declarações do governo que dão conta de que o Estado só cresceu na gestão atual: – Lula esqueceu da União Soviética, da China e do Brasil, porque crescemos muito no século passado – ironizou, destacando que o problema não é o tamanho do Estado, mas sua eficiência.
Fraga também apontou pontos fracos na economia. Advertiu para a necessidade de o governo buscar mais eficiência nos gastos, a exemplo do setor privado. Segundo ele, a carga de impostos do Brasil, equivalente a 40% do PIB, tem peso excessivo para a economia de um país de renda média como a brasileira.
Por isso, o governo deveria buscar como meta ampliar os ganhos de produtividade do Estado.
– Há muito a ser feito. Os ganhos de produtividade precisam ser uma meta não só do setor privado, mas também do governo – cobrou Fraga.
Avaliação parecida fez o secretário estadual de Fazenda do Rio de Janeiro. Levy atentou para a necessidade de mais eficiência nos gastos públicos, com medidas que contribuam, por exemplo, para reduzir a burocracia na execução de projetos de infraestrutura.
– É preciso estar alerta para isso.
Do contrário, corremos o risco de ficar para trás quando a economia mundial se recuperar – advertiu o secretário, ao lembrar da necessidade de se aproveitar a crise para promover a retomada dos projetos de reformas econômicas estruturais.
Lula foi aplaudido ao dizer que FMI deve direcionar esforços para as economias mais necessitadas
Do Jornal do Brasil