“Atitude ideológica na compra de vacina é das mais irresponsáveis do governo”

Bolsonaro desautorizou a aquisição de 46 milhões de doses da vacina chinesa contra a Covid-19

Diante da perplexidade quase geral da nação, que se aproxima da marca de 155 mil mortes por Covid-19, Bolsonaro desautorizou a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac, vacina chinesa contra o vírus, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, já havia assinado o protocolo para a compra.

Em sua página no Facebook ficou ainda mais explícita que a preocupação do presidente não é com a saúde dos brasileiros e, sim, com a disputa política com Doria, possível adversário dele nas eleições de 2022.

Na postagem Bolsonaro chamou a CoronaVac de “vacina chinesa de João Doria” e disse que não permitirá que a população brasileira seja “cobaia de ninguém“.

Embora tenha citado a segurança e eficácia conforme aprovação da Anvisa, o governo federal assinou, em agosto, MP (Medida Provisória) que libera R$ 1,9 bilhão para produção, compra e distribuição de 100 milhões de doses da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório Astrazeneca. No Brasil, a pesquisa sobre esse imunizante é liderada pela Fiocruz.

O presidente do Sindicato, Wagner Santana, o Wagnão, criticou a atitude irresponsável e ideológica de Bolsonaro. “A ideologização do combate a Covid-19 é das mais irresponsáveis atitudes deste idiota que hoje governa o Brasil. A obrigação de um governante é proteger seus governados e não transformar sua submissão ao governo dos Estados Unidos em um risco maior do que já causou à vida de brasileiros e brasileiras. Não nos interessa qual a origem da vacina. O que ela precisa é ter comprovação da Organização Mundial de Saúde e das instituições brasileiras de saúde de sua eficácia”.

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“Não nos interessa qual a origem da vacina. O que ela precisa é ter comprovação da OMS e das instituições brasileiras de saúde de sua eficácia”, Wagner Santana, o Wagnão

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“Atitude xenofóbica e ideológica vai custar a vida do país”

O deputado federal (PT-SP), médico infectologista e ministro da Saúde no Governo Dilma, Alexandre Padilha, conversou com a Tribuna sobre o assunto. Confira:

Inadmissível

“A atitude de Bolsonaro é de uma xenofobia (ódio a estrangeiros) ideológica inadmissível para um chefe de Estado que tem responsa-bilidade sobre as vidas e sobre a economia do povo brasileiro. O Brasil deter a soberania de várias técnicas de vacinas para Covid-19 é fundamental para salvarmos vidas impedindo mais mortes, mas também para recuperação econômica do país, para a volta das atividades econômicas, expansão do emprego e do trabalho”.

Incoerente

“A postura de Bolsonaro é inadmissível e incoerente. Incoerente porque ele disse que não pode investir recursos numa vacina que não teve todos os seus testes concluídos. Acontece que ele antecipou já um bilhão de reais para  desenvolver a vacina de Oxford junto com a Fiocruz sem ter os testes encerrados. Mais uma vez, Bolsonaro pratica uma xenofobia ideológica que vai custar a vida do país”.

Desafios

“O Brasil tem três desafios imediatos para que a gente possa ter acesso à vacina. O primeiro é barrar essa atitude xenofóbica que coloca em risco a vida das pessoas. O segundo é acompanharmos o desafio científico que é descobrir novas vacinas, sua eficácia, que ainda não está garantida, embora a gente tenha muita esperança nos testes. O terceiro é garantir que a vacina, em tendo eficácia, chegue para todos e para isso é preciso investimento do ministério da Saúde e do Governo Federal, esses investimentos tem que ser antecipados agora”.

Base dos governos Lula e Dilma

“As plantas industriais para produção e desen-volvimento da vacina do Instituto Butantan, em parceira com a empresa chinesa, são as plantas que nós construímos em 2009 e 2010 por conta da vacina da Gripe Suína, H1N1, quando eu estava ministério da Saúde e a vacina do HPV, em 2013. E as plantas da Fundação Oswaldo Cruz, a planta industrial que permite produzir a vacina da Covid-19 de Oxford, foi construída através de uma cooperação de biotecnologia do Brasil com Cuba”, lembrou Padilha.

PL 1462 – Não ao monopólio

 “Temos que ter a garantia de que a empresa que venha a registrar a vacina não tenha o monopólio de comercialização e distribuição porque se tiver, pode estabelecer um preço abusivo. Sou um dos principais autores do Projeto de Lei 1462 que busca não permitir o monopólio. Basta autorizar qualquer laboratório a produzir o medicamento, claro, desde que cumpra as regras de qualidade”.

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