Ato em repúdio à perseguição aos trabalhadores no ABC
Amanhã, às 13h, em São Bernardo. Leia entrevista de Osvaldo Cavignato, homenageado na atividade e perseguido na época.
“Meu papel era estar aqui e me orgulho disso”, diz Cavignato
O presidente do Sindicato, Rafael Marques, convida toda a categoria a prestigiar o ato em repúdio à perseguição dos trabalhadores do ABC pela ditadura, que acontece amanhã, a partir das 13h, no teatro Cacilda Becker, em São Bernardo.
Organizado pela AMA-A/ABC (Associação dos Metalúrgicos Anistiados do ABC), ativistas, políticos e artistas, com o título “Unidos, Jamais Vencidos”, 400 trabalhadores serão homenageados por sua luta em defesa da democracia e da liberdade.
Para encerrar a série de reportagens sobre o ato, a Tribuna publica hoje entrevista com o criador e ex-coordenador da Subseção Dieese do Sindicato, Osvaldo Cavignato, um dos destaques na atividade deste sábado.
Tribuna Metalúrgica – Em que momento começou sua história nos metalúrgicos do ABC?
Osvaldo Cavignato – No início da década de 1970, quando trabalhei como ferramenteiro em empresas na região e fiquei sócio do Sindicato. Como já conhecia Lula do I Congresso dos Metalúrgicos, ele me convidou para criar o departamento econômico do Sindicato, pois já estudava Ciências Econômicas.
TM – Você chegou a ser preso?
OC – Sim, em 1975. Na época eu fazia parte do Partido Comunista Brasileiro e participava do movimento estudantil.
TM – Quanto tempo ficou nas mãos dos militares?
OC – Foram exatamente 78 dias sob tortura, dia e noite.
TM – De que forma?
OC – Os torturadores nos colocavam em uma roda e batiam em todos, sem dó nem piedade. Era porrada, cadeira de dragão, choque elétrico e sal no machucado aberto para doer ainda mais. Nos obrigaram a amarrar os testículos uns dos outros para humilhar ainda mais. O tempo todo com um capuz na cabeça para não ver quem batia e as mãos amarradas com um fio. Ficava em frangalhos.Perdi um dente. E tinha que apanhar calado porque quanto mais eu tentasse me defender, pior ficava a situação. Fingia até que não conhecia ninguém. Sofri tudo isso e muito mais durante uma semana ininterrupta no Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna, o DOI-CODI. Depois segui para o Departamento de Ordem e Política Social, o DOPS, e o presídio do Hipódromo.
TM – Que aconteceu em seguida?
OC – Perdi um ano de faculdade e pedi demissão do Sindicato. Entrei em uma empresa para trabalhar na área de Recursos Humanos e, como tinha acesso a todas as informações, descobri uma lista negra com nomes dos trabalhadores considerados comunistas e seus delatores. Esses não arranjavam emprego em lugar nenhum.
TM – A volta ao Sindicato aconteceu em que momento?
OC – O Lula me convidou novamente em1976, mas para ser diretor do Sindicato. Achei que eu seria mais útil na área econômica. Assim, só voltei em 1979. Com apenas uma mesa, calculadora, caneta e papel, nós criamos a primeira subseção do Dieese em São Bernardo. Fiquei 30 anos responsável pelo departamento.
TM – Como funcionava o Dieese?
OC – Elaboramos inúmeros trabalhos tentando ajudar a categoria a entender a economia na região e em todo o País. Em tudo. Discussões de jornadas de trabalho, negociações de campanha salarial, apresentações até no exterior com grande confiabilidade. O trabalho do Dieese é político. Nós preparamos as comissões de fábrica com orientação necessária para a luta da categoria na garantia de seus direitos. As subseções que vieram depois usaram como exemplo a de São Bernardo. O meu papel era estar aqui e eu me orgulho disso.
Da Redação