$aúde em festa
Um total de 48% dos médicos paulistas receita medicamentos de acordo com que a indústria farmacêutica indica, aponta pesquisa inédita realizada pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.
Entre os médicos, 93% admitiram que ganham brindes e benefícios de empresas farmacêuticas e de equipamentos e 80% recebem visitas de representantes com regularidade, 62% avaliam isso positivamente e alegam que a indústria realiza bom atendimento técnico, traz novos medicamentos e informações científicas atualizadas.
Mas, para cerca de um terço dos médicos, a relação está muito contaminada e por vezes ultrapassa os limites da ética.
Estas informações circularam na grande imprensa e foram extraídas diretamente da Edição 1582 – ABC Online, quarta-feira, 9 de junho de 2010.
Muitas pessoas estão preocupadas com o que isso pode significar e mais, o que isso pode representar de risco para a saúde quando se procura um médico.
Em primeiro lugar é preciso lembrar que infelizmente a medicina passa por uma enorme crise ética. Por um lado, o desenvolvimento científico e tecnológico na indústria farmacêutica e na descoberta e desenvolvimento de novos e sofisticados aparelhos de diagnóstico e tratamento
leva a atividade do médico à fronteiras ainda muitas vezes desconhecidas e por isso mesmo
pouco seguras. Por outro lado, fragiliza a relação médico/paciente, que tem de ser caracterizada por confiança e respeito, fatores imprescindíveis para a qualquer tratamento.
Não é de hoje que sabemos que existe uma ciranda de congressos, seminários e cursos, que nada mais são que eventos nos quais o que está em primeiro plano são as propagandas de equipamentos e novos medicamentos. O que está embutido no pacote são viagens aéreas, diárias em hotéis de luxo, passeios, jantares e outras mordomias a um único preço: a prescrição
de remédios e produtos daqueles que patrocinaram a festa. E tudo isso é controlado pela venda desses produtos nas farmácias do bairro ou da cidade onde o médico atua. E se não vender, acabam-se os congressos.
Por outro lado há uma necessidade para os médicos de conhecer e aprender sobre esses novos lançamentos, caso contrário em pouco tempo estarão com suas clínicas esvaziadas e com fama
de ultrapassados.
A questão que se coloca para reflexão é: será possível uma outra realidade dentro de uma sociedade capitalista, onde a saúde e a medicina são atividades econômicas lutando despudoradamente por lucros cada vez maiores?
Antes de pensar na resposta temos que nos perguntar:
de onde o governo vai tirar, cada vez mais, dinheiro para bancar os espetáculos desse circo em que se transformou a saúde?
Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente