Aumenta a procura por máquinas que fazem máquinas
Não são apenas os fabricantes de computadores, celulares e equipamentos de telecomunicações que comemoram o crescimento das vendas no Brasil. Além dessas companhias – um time que inclui marcas conhecidas como Nokia, Motorola, Positivo e Ericsson, para citar algumas – outras empresas, bem menos conhecidas do público, têm motivos para celebrar o aumento na demanda. São os fornecedores dos equipamentos que montam esses produtos eletrônicos, ou seja as máquinas que fazem máquinas.Com o aumento da produção local de equipamentos eletrônicos, essas empresas – como as japonesas Juki e Fuji e a alemã ASM – têm visto seus negócios crescerem em ritmos que variam entre 30% e 50% ao ano.
Não há fabricação desse tipo de equipamento no Brasil. As máquinas são importadas. Também não existem números oficiais. Segundo Noriaki Saito, presidente da Juki no Brasil, a projeção é de que o número total de equipamentos vendidos no país este ano aumentará 67%, para 290 unidades. Em termos de receita, o valor previsto é de US$ 71 milhões. No ano passado, o faturamento do setor foi de US$ 44 milhões.
Para outras empresas do setor, no entanto, o mercado terá um crescimento muito mais expressivo. “Só no primeiro semestre vendemos mais de 290 máquinas”, diz Paulo Valentim, engenheiro de vendas da Fuji. A companhia – que não tem nada a ver com a empresa homônima do segmento de imagem – é a principal fornecedora desse tipo de equipamento, com metade do mercado nacional, de acordo com estimativas do setor. A Juki tem 10%. O restante é dividido por companhias como a japonesa Panasonic, a ASM (que no começo de 2010 comprou a área de SMT da Siemens) e as coreanas Samsung e Mirae.
Cabe às máquinas de Surface Mount Technology (SMT), como são conhecidas, montar o verdadeiro quebra-cabeça que forma os circuitos eletrônicos usados em equipamentos como computadores e celulares. Para se ter uma ideia, a placa de um notebook é composta, em média, por 1,5 mil componentes. Entre eles estão resistores, capacitores e chips que controlam o funcionamento de peças como as entradas USB.
Alguns desses itens têm dimensões tão pequenas que tornam o seu manejo praticamente impossível por seres humanos. O menor componente usado pelos fabricantes atualmente mede 0,2 milímetro x 0,1 milímetro, o tamanho de um grão de areia grossa.
Uma pessoa até poderia colocar as peças nas placas manualmente, mas sua eficiência jamais se aproximaria à de uma máquina SMT. Um dos equipamentos mais recentes da Fuji tem capacidade para encaixar 160 mil componentes por hora, quando configurada para fazer placas de telefones celulares. Isso significa que, a cada hora, ela produz 116 placas.
Depois de prontas, essas partes são levadas à segunda etapa do processo de produção. É quando as máquinas saem de cena. O trabalho de colocar as placas dentro das carcaças dos aparelhos é manual. Tanto que as mulheres são maioria nas linhas de produção. O motivo é que elas têm mãos menores, o que as torna mais aptas para lidar com peças pequenas e delicadas.
Além das companhias que produzem eletrônicos com suas próprias marcas no país, também são consumidores das máquinas SMT os fabricantes que produzem sob encomenda, como Foxconn, Digitron e Jabil.
Celulares, computadores, TVs e dispositivos para automóveis são segmentos com boas perspectivas de crescimento, diz Domingos Tomyama, diretor-presidente da Fuji, “Itens como o airbag obrigatório de fábrica estão movimentando a indústria”, afirma o executivo. Com 1,2 mil clientes no país, a Fuji projeta um crescimento superior a 50% este ano.
A Juki pretende ampliar de 10% para 13% sua participação no mercado local, diz Saito. O executivo japonês, que chegou ao país há seis meses, diz que o objetivo é vender para companhias de médio porte.
Apesar do número relativamente pequeno de máquinas vendidas anualmente, o setor exige uma atualização constante, o que garante um fluxo de receita recorrente para os fabricantes. Segundo Fábio Sung, diretor de suprimentos da Digitron, as atualizações têm que ocorrer todos os anos para acompanhar a evolução dos componentes usados na montagem de equipamentos. “Quem não se atualiza fica para trás”, diz. A Digitron projeta crescer 30% em 2011.
Do Valor Econômico