Azenha: “Evite sair quando ocorrerem chuvas fortes”
Por Luiz Carlos Azenha, no blog Viomundo
O alerta do título é oficial e consta do site do Centro de Gerenciamento de Emergências de São Paulo. Equivale a uma rendição das autoridades paulistas e paulistanas às intempéries.
O CGE é o encarregado de dar os alertas sobre as chuvas e os possíveis pontos de alagamento na capital.
São Paulo dispõe, também, de um Sistema de Alerta a Inundações (SAISP), baseado no monitoramento de chuvas e da vazão de rios.
Os dados estão todos lá.
Mas falta a chamada “vontade política”.
Dois exemplos básicos.
Estamos em setembro de 2001. Eu me encontro em Tóquio, no Japão, gravando um Globo Repórter. Recebemos a notícia de que um furacão se dirige à capital japonesa. Os primeiros efeitos da chuva testemunhamos na estrada, depois de visitar a ilha onde se produzem as famosas pérolas de Mikimoto.
Dado o alerta, a máquina começa a se movimentar. Operários aparecem com placas de madeira para cobrir janelas do primeiro piso. Apoios de madeira são colocados em torno das árvores mais vulneráveis. Carros de bombeiro e ambulâncias são colocadas em áreas estratégicas, protegidas do vendaval. Bombeiros descem com bombas de água até estações de metro, para evitar inundações. Está tudo lá, prontinho para a emergência. Assistimos à tempestade de dentro do hotel, com uma breve saída para gravação nas ruas. Assim que passa o furacão, os equipamentos são recolhidos, os reparos necessários começam a ser feitos pelas equipes da prefeitura e a vida em Tóquio volta ao normal.
Tudo bem, o Brasil não enfrenta o mesmo nível de emergências que o Japão (numa de minha viagens ao país, a título de elogiar o Japão, um comentarista da extinta TV Manchete começou seu comentário assim: “Estamos nos confins do mundo. No Japão, terra de vulcões, furacões, terremotos e maremotos”. Juro por Deus que ele disse isso).
Mas se o Brasil não enfrenta tantas emergências quanto o Japão, o mesmo podemos dizer da Venezuela. Vamos a Caracas, em 2011, à prefeitura de Chacao, um dos municípios que compõem a Grande Caracas. Ali, no centro de emergências, na temporada de chuvas o monitoramento vai além de assistir ao transbordamento dos córregos: um sistema automático dispara alarmes para a população ribeirinha e, se for o caso, a polícia interrompe o trânsito na principal avenida de Caracas, a equivalente local da marginal do Tietê, antes que ela seja invadida pelas águas.
De que adianta ter um sistema de monitoramento se a gente não age a partir dele? “Evite sair quando ocorrerem chuvas fortes”, convenhamos, é digno de piada. E depois a gente ainda brinca com os lusos…
Será que os paulistas e paulistanos não merecem uma atenção especial, já que sabemos muito bem quais são os principais pontos de alagamento da cidade? Será que não dá para bloquear o trânsito antes dos transbordamentos, evitando mortes e perdas materiais?
Por onde anda o socialista Kassab, que não nos escuta?