Banco Central persegue inflação cada vez menor
Alguém não dormiu esta noite e certamente chegou mais cedo à mesa de operações com juros, câmbio e derivativos na esperança de o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, favorecido pelo fuso horário londrino já ter dado – antes da abertura dos negócios – alguma indicação mais precisa ou uma dica, uma deixa, uma colher de chá sobre a ‘ambição do BC’ de trazer a inflação para mais perto da meta de 4,5%. E, de fato, o presidente do BC, durante evento em Londres, não mencionou o alvo de 4,5%, mas afirmou que a inflação está sob controle, progressos vem ocorrendo nesse sentido, dados parciais mostram o declínio da inflação.
O presidente do BC voltou a afirmar que “neste ano a inflação vai ficar menor do que a do ano passado [5,84%] e nós queremos continuar nesse caminho. A confiança dos consumidores e dos empresários é importante e estamos olhando com cuidado para o processo de controle nos curto e longo prazos”, completou Tombini, segundo relato da jornalista Vanessa Dezem, para o Valor PRO, serviço de tempo real do Valor. Porque dedicar tanta atenção ao BC e a toda e qualquer declaração do seu presidente e diretores hoje e nos próximos dias? O interesse do mercado justifica.
Ontem à tarde, uma minoria de instituições demonstrou intenção em potencializar declarações de Tombini, feitas em Londres horas antes, sobre inflação e política monetária ou política monetária e inflação. Após participar de encontro fechado com investidores promovido pela Bloomberg, Tombini , em entrevista à agência de notícia, deu uma sinalização que soou conhecida por parcela majoritária do mercado financeiro. Mas uma fatia minoritária, porém coalhada de instituições com clientes pra lá de relevantes, multiplicaram em alta velocidade a informação de que o presidente do BC teria afirmado que a instituição pretende levar a inflação para o centro da meta de 4,5% em 2014 – objetivo que para ser alcançado tem um sentido bem específico para a maioria dos operadores, estando certo ou errado na calculadora, exigiria uma elevação respeitável da taxa Selic.
O Casa das Caldeiras recebeu mensagens, inclusive de fontes nos EUA, que tentavam esclarecer se o BC teria distribuído algum relatório, documento ou concedido alguma outra entrevista no Brasil que justificasse uma mudança de postura classificada ‘radical’ por três de cinco interlocutores. Foi possível constatar também a paralisação de vários procedimentos em departamentos econômicos ou de pesquisas de bancos e consultorias financeiras para reavaliação de projeções para as próximas decisões do Comitê de Política Monetária do BC, sendo que o comitê tem uma reunião marcada para a semana que vem.
Na entrevista concedida à agência internacional, o presidente do BC afirmou sim que a instituição trabalha no sentido de aproximar o IPCA de 4,5%. Mas não deu uma estimativa de quando isso pode ocorrer. E afirmou que o BC está avaliando “todas as variáveis para tomar as melhores decisões”.
No mercado futuro da BM&FBovespa, os contratos de Depósitos Interfinanceiros (DI) – utilizados para balizar projeções para a Selic – recuaram no fechamento, mas estão sinalizando duas elevações da taxa Selic de 50 pontos-base neste ano (reuniões de 8 e 9 de outubro e 26 e 27 de novembro) e mais quatro altas de 25 pontos em 2014 (nas reuniões de janeiro, fevereiro, abril e maio).
Se essas projeções se confirmarem, a Selic ainda subirá mais 200 pontos-base. Encerrará 2013 cotada a 10% e, 2014, a 11% ao ano. Esse patamar foi alcançado pela última vez quando a taxa básica brasileira estava num ciclo de queda e, em 30 de novembro de 2011, foi reduzida pelo mesmo Copom, de 11,50% para 11%.
Em tempo: além de monitorar o BC e os seus dirigentes, as tesourarias bancárias já estão avaliando nesta manhã a decisão da agência de classificação de risco de crédito Moody’s de rebaixar, na noite desta quarta-feira, a perspectiva da nota de crédito da dívida soberana do Brasil (Baa2), de positiva para estável.
Do Valor Econômico