Bancos aproveitam reaquecimento e retomam financiamento à produção

Segundo dados da Abecip, em agosto as liberações para obras cresceu 17% em relação a julho, para R$ 1,154 bilhão

A demanda por financiamento à produção já apresenta um ritmo semelhante ao visto antes da crise. Aos primeiros sinais de aceleração dos lançamentos, as instituições financeiras reativaram as conversas com as empresas e partiram para a disputa pelos melhores empreendimentos. Segundo dados da Abecip, em agosto as liberações para obras cresceu 17% em relação a julho, para R$ 1,154 bilhão. O valor ainda é inferior aos vistos em 2008, mas a tendência é de alta.

“Recebemos entre 10 e 15 projetos novos por semana para passar pelo crivo técnico, o que corresponde a uma média de R$ 200 milhões semanais. O mercado está bastante aquecido e os projetos engavetados durante a crise estão sendo colocado em planos de construção”, disse o diretor do Bradesco, Nilton Pelegrino Nogueira.

Roberto Sampaio, diretor do HSBC responsável pela área de crédito às empresas, disse que o banco já está no ritmo pré-crise. “As incorporadoras tomaram coragem e o número de lançamentos neste ano pode atingir o mesmo volume de 2008. Ninguém imaginava isso no começo do ano”, disse.

A Caixa Econômica Federal também aproveitou o recuo dos grandes bancos para ocupar um espaço nesse segmento. A Caixa detém quase dois terços do mercado como um todo, mas no financiamento à produção o banco estatal era mais tímido. “Por conta do programa Minha Casa Minha Vida, fizemos uma revisão nos processo para aumentar a agilidade e racionalizar os processos. Agora vamos estender isso para os demais programas e com certeza vamos expandir o financiamento à produção”, disse Bernadete Coury, superintendente da Caixa.

O apetite dos bancos voltou porque, de modo geral, as condições do setor da construção melhoraram bastante. O principal indicador olhado pelos bancos para liberar recursos é a velocidade de vendas e já existem lançamentos com índice bem alto. Segundo o diretor do Itaú, Luiz França, um empreendimento financiado pelo banco vendeu 65% das unidades no lançamento, média pré-crise.

A crise também serviu para recolocar o setor nos eixos, avaliam os bancos. Além do processo de consolidação, que agradou as instituições por criar grupos mais sólidos e com mais recursos em caixa, houve uma desova de estoque de lançamentos encalhados e muitas companhias conseguiram readequar o fluxo de caixa às suas necessidades.

O interesse em dar crédito para as empresas, além de ganhar com o empréstimo, é garantir o chamado “repasse”, que é o financiamento da pessoa física quando da entrega das chaves, afirma Alexandre Melão, da Five Imóveis. E os bancos vêm investindo em parcerias com as imobiliárias justamente para atender essa demanda. “Funcionamos como uma espécie de correspondente dos bancos”, disse.

Do Valor Econômico