Bancos de montadoras aceleram atuação para financiamentos

Campanhas de “juro zero”, feirões e até entrada parcelada no cartão de crédito. Ao folhear os jornais do fim de semana, é fácil identificar que as promoções de veículos voltaram. Nesse jogo, os bancos ligados às montadoras têm mostrado presença mais contundente no financiamento das respectivas marcas. Suscetível às ofertas, o consumidor tem respondido à altura e assim permitido que as vendas de carros e motos zero quilômetro mantenham o seu ritmo, apesar das medidas de aperto do crédito de dezembro, que reduziram prazos, aumentaram a entrada e encareceram as prestações.
 
No primeiro bimestre foram emplacados 488,9 mil veículos, considerando-se automóveis e comerciais leves, um incremento de 18,4% em comparação ao mesmo período em 2010, quando ainda havia o incentivo do IPI mais baixo. A previsão da Fenabrave é de que março tenha um acréscimo de mais 286,8 mil unidades. Os dados serão fechados hoje, mas se tal prognóstico se confirmar vai significar expansão de 3% sobre uma base já alta de março de 2010. No segmento de motocicletas, altamente dependente de crédito, a estimativa é encerrar o trimestre com 437,8 mil emplacamentos, 8% acima do observado entre janeiro e março de 2010.

O crédito que suporta boa parte desse fluxo mostra reação, depois do baque de janeiro. Em fevereiro, a média diária de concessões de financiamento de veículos para pessoas físicas, alvo das medidas, aumentou 18,2%, para R$ 417 milhões, volume que se compara aos R$ 409 milhões de março do ano passado, último mês de vigência do desconto no IPI. No acumulado de 2011 ainda há, porém, um recuo de 14% na média de desembolsos diários.
 
“Parte dos consumidores migrou para o pagamento à vista e parte optou pela entrada maior”, diz o presidente do Banco Volkswagen, Décio Carbonari de Almeida. Ele diz que a percepção na ponta, em conversas com concessionários, é que o consumidor que mantinha uma reserva para reforma da casa ou para a compra da TV e financiava parcela maior em veículos, linha mais barata, está bancando a entrada maior.
 
“E o banco está financiando mais porque nesses momentos de compressão os concessionários se voltam para as instituições ligadas às montadoras. Melhoramos as condições de competitividade e aproveitamos para ganhar mercado quando os outros estão mais retraídos.” O prazo médio das operações caiu de 36 meses para 32 meses, mas no ajuste dos preços na ponta, a instituição subiu menos os juros; na média, em 0,2 ponto percentual sobre dezembro.
 
Enquanto o BC reportou em fevereiro que, na média, as taxas cobradas no financiamento de veículos superavam os 27% ao ano, no último fim de semana os anúncios com as ofertas da Volkswagen mostravam, por exemplo, taxas a partir de 6,04% ao ano.

No campo macroeconômico, o crescimento da massa salarial, conjugado com baixos índices de desemprego, economia em expansão e disponibilidade de crédito, mesmo que em volume menor, compõem um cenário de contenção da atividade, mas não de esfriamento, diz o diretor corporativo da Ford América do Sul, Rogelio Golfarb. “Apesar da limitação dos prazos e do encarecimento do crédito, esses elementos ainda promovem a venda de automóveis.”
 
O executivo acrescenta que a feroz competição no setor automotivo, intensificada pelos importados, não permitiu um ajuste de preços acima da inflação. Pelas contas da montadora, a alta dos juros e as medidas prudenciais representaram uma elevação de cerca de R$ 100 nas prestações. “Um trabalhador que tenha o seu salário reajustado em 5% acima do IPCA consegue absorver tal aumento.” E como no setor a inadimplência é baixa, os bancos das montadoras ampliaram as promoções, subsidiando taxas. No caso da Ford, a carteira de financiamento ao consumo está nas mãos do Bradesco. A Ford Credit, braço financeiro da marca, atua, porém, nos estímulos aos distribuidores.
 
Nos veículos da fabricante Honda, entre dezembro e fevereiro, as vendas financiadas de motocicletas cresceram 24,5% na comparação com igual período do ano passado, enquanto no segmento de automóveis a expansão foi de 30%, considerando-se a as operações da própria financeira e de outros bancos. “Sem as medidas, a demanda talvez fosse maior”, diz o diretor da Honda Serviços Financeiros, Marcos Zaven Fermanian.
 
Segundo o executivo, a rede de distribuidores tem recorrido mais à financeira da Honda para atender os clientes, especialmente no segmento de automóveis. Como o consumidor já dava uma entrada maior, de cerca de 50%, o reforço de capital exigido pelo BC nas operações acima de 24 meses não provocou mudanças significativas na política de crédito. O prazo médio das operações até aumentou ligeiramente, de 28 para 29 meses, enquanto os juros subiram 0,7 ponto percentual ao ano. No nicho de duas rodas, em que tradicionalmente o consumidor dispõe de menos dinheiro para desembolsar na frente, o prazo médio é de 40 meses e o ajuste nos juros teve que ser maior, de 0,10 ponto percentual ao ano.

Do Estadão