Bancos empurram proposta para a próxima negociação

Resultados excepcionais e mostram que bancos podem pagar o que devem aos bancários: aumento real, PLR e piso maiores, fim do assédio moral, das metas abusivas, mais segurança e empregos

Rentabilidade em alta, mas disposição de valorizar seus funcionários muito baixa. Na rodada de negociação sobre remuneração, realizada nessa quarta e quinta-feira, os negociadores da federação dos bancos (Fenaban) voltaram a remeter boa parte dos temas abordados na mesa para o debate “banco a banco”.

Também informaram que só vão apresentar proposta de índice para o reajuste salarial na próxima semana, em negociação marcada para quarta-feira 22. O Comando Nacional dos Bancários deixou claro aos negociadores da Fenaban que devem ser apresentadas respostas também para outras reivindicações de remuneração, como PLR, vales e piso, assim como questões de saúde como o fim do assédio moral, das metas abusivas, além de segurança e geração de mais empregos.

O Comando vai cobrar das direções do Banco do Brasil e da Caixa Federal que também apresentem suas propostas até o dia 23.

A presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, lembra que na terça 21 tem Dia de Luta em todo o país. “Vamos fazer um grande ato nacional mostrando aos banqueiros nossa mobilização e indignação com o descaso dispensado às reivindicações dos trabalhadores.”

No dia 28 de setembro, os bancários vão fazer assembléias em todo o Brasil para apreciar a proposta que os banqueiros se comprometeram a apresentar no dia 22. “Já estão sabendo: se a proposta não trouxer aumento real, PLR maior e respostas para nossas outras reivindicações, os bancários podem paralisar suas atividades já a partir do dia 29”, avisa Juvandia.

PLR O Comando Nacional dos Bancários apresentou na mesa de negociação os números da rentabilidade do setor, destacando também que os lucros crescem muito. “O setor está muito bem, em mais um ano excepcional, cresceu muito e os bancários querem sua parte desse crescimento”, diz Juvandia, lembrando a reivindicação de três salários mais R$ 4 mil para todos.

Os dados de rentabilidade – retirados dos relatórios dos seis maiores bancos – foram questionados pela Fenaban. “Eles ficaram incomodados porque dissemos que a rentabilidade sobre o patrimônio é alta, de até 29% em alguns casos, o que significa que a cada quatro anos uma instituição tem capital para comprar outra do mesmo porte”, explica Juvandia.

Esse quadro se mantém assim ao longo dos anos e faz do setor financeiro brasileiro um dos mais rentáveis do mundo, maior até que em países desenvolvidos. “Os números do setor dizem que podemos ter remuneração de primeiro mundo também. Os bancos não gastaram mais em 2009 que em 2008 para pagar a PLR. Mas em 2010 lucraram muito mais e têm de distribuir mais”, salienta Juvandia.

Vales Distantes das realidades dos trabalhadores, os representantes dos banqueiros afirmaram na rodada desta quinta-feira que os vales refeição e alimentação são adequados às necessidades dos bancários. Disseram “não” à reivindicação de pagamento de um salário mínimo (R$ 510) para o VA, VR e 13ª cesta, informando que a decisão deles é de corrigir essas conquistas pelo mesmo índice que for acordado para o reajuste dos salários.

Chegaram a comentar que muitos bancários transformam o VR em VA porque não precisam. “Os banqueiros vivem mesmo em outra realidade. Os bancários transformam o VR em VA porque o valor é insuficiente para as compras de supermercado e fazem uma dura contabilidade para passar o mês e fazer suas refeições”, destaca Juvandia. “Os valores precisam ser melhorados e os bancos têm plenas condições de fazer isso se quiserem valorizar seus empregados. E, inclusive, o impacto para eles é muito pequeno.”

Auxílio-educação – Sem qualquer consideração com a reivindicação dos bancários, a Fenaban informou que trazia a “mesma resposta” de outros anos para o auxílio-educação: é uma estratégia de cada banco. “Disseram que não têm interesse em discutir isso com o movimento sindical e acordar em Convenção Coletiva, apesar de exigirem cada vez mais formação dos trabalhadores que ingressam na empresa e que querem crescer na carreira”, rebate Juvandia.

Auxílio-creche – Enquanto os bancários reivindicam aumentar o valor do auxílio-creche/babá atual, que é insuficiente, os negociadores dos bancos, mais uma vez, querem reduzir, em um ano, o prazo do pagamento.

Previdência complementar – O Comando também utilizou os números de crescimento do lucro do setor para mostrar que os bancos podem ajudar a contribuir para a criação de uma previdência complementar para os bancários. Mas a Fenaban novamente remeteu o debate a cada banco, que faz se quiser, dizendo que isso não se convenciona.

“Argumentamos que o ganho médio do bancário é de R$ 3 mil, mas quando ele consegue se aposentar fica com valor menor, sem vales, PLR e plano de saúde. Trata-se de um debate de remuneração muito importante para o trabalhador que os bancos estão se recusando a fazer, sem pensar no futuro dos funcionários que constroem a riqueza dos bancos”, diz Juvandia.

14º salário – Os bancários merecem e precisam de mais dinheiro no bolso: essa foi a argumentação do Comando para a reivindicação de 14º salário para os trabalhadores. Os representantes da Fenaban, no entanto, disseram “que se o salário é pouco, que se pague 13 salários melhores”.

A presidenta do Sindicato ressalta que é exatamente isso que os bancários querem. “O 14º salário seria uma forma de melhorar a remuneração da categoria, que não está acompanhando o crescimento astronômico dos bancos. Queremos os 13 salários melhores que eles reconheceram que têm de pagar e o 14º para corrigir as distorções que ocorrem ao longo do ano.”

Do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região