Banqueiros usam a crise da agiotagem para ignorar reivindicação dos bancários
Categoria completa 15 dias de greve; negociação esbarra na intransigência dos patrões, que, apesar dos lucros recordes, não fazem propostas decentes e ainda insinuam que a culpa é da crise internacional
Os bancários intensificaram nesta terça-feira a greve em todo o País como forma de pressionar os banqueiros a apresentarem uma proposta decente de campanha salarial.
“A greve já dura 14 dias e foi provocada pelos banqueiros, que não fizeram uma proposta que valorize, de fato, os trabalhadores”, protestou o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Luiz Cláudio Marcolino.
A única proposta apresentada foi rejeitada, já que a maior parte dos bancários ficaria sem aumento real e o valor da PLR, em comparação com os lucros, seria menor que o do ano passado. Além disso, os bancários querem aproveitar a campanha para negociar o fim do assédio moral, que é a pressão por metas e resultados.
“A greve é pela dignidade, é para dar um basta nessa forma de trabalho. O movimento está forte em todo o País, tanto nas agências dos bancos públicos e privados, mostrando a insatisfação da categoria”, disse Luís Cláudio.
Ele lembrou que os bancos tiveram aumento de rentabilidade e de lucro nos últimos anos e que no primeiro semestre deste ano eles embolsaram R$ 25 bilhões somente com a cobrança de tarifas.
“Recursos não faltam para os banqueiros fazerem uma proposta que atenda as expectativas dos bancários”, revelou o sindicalista.
“Acabar com a greve é responsabilidade dos bancos”
Mauricio Morais/ Bancários SP
Para Marcolino, se os banqueiros levarem a negociação para a justiça será uma traição
O Tribunal Regional do Trabalho deu prazo até amanhã para patrões e trabalhadores chegarem a um acordo. Mas, os bancários acreditam que os banqueiros querem o julgamento da greve pois o Tribunal “historicamente toma decisões contra os trabalhadores”.
Nos dissídios de campanha salarial deste ano, o TRT mediou a inflação medida pelo INPC e zero de aumento real.
Para Luís Cláudio, se os banqueiros levarem a negociação para a justiça será uma traição. “Nossa disposição é resolver o impasse no diálogo, na negociação, como fizemos nos últimos 18 anos, sem a interferência da Justiça”, comentou.
Muleta
Nas negociações desta semana, os banqueiros chegaram a colocar a culpa na crise especulativa internacional, mas os bancários não engoliram essa história.
“A crise não é motivo, pois ela existe desde o ano passado e nossas negociações começaram em agosto”, afirmou.
Luís Cláudio disse que a conta do crise não pode ser cobrada do trabalhador. “Cabe aos banqueiros detectarem a insatisfação dos bancários e fazerem uma proposta decente. Acabar com a greve é responsabilidade dos bancos”, concluiu.
Da Tribuna Metalúrgica