Barnabés e barbaridades
Em editorial de 22/08, “A ‘Cut Barnabé'”, ao analisar a recente sucessão no comando da CUT Nacional, o jornal O Estado de São Paulo tergiversa e conclui que a posse do professor João Felício significa mudança na base da CUT e reorientação estratégica da Central. É uma conclusão falsa e baseada em manipulações e omissões de informações, dados e números. Vamos a elas:
1. “O predomínio do setor público afastou da CUT os operários do setor privado”. Esta afirmação, destacada em “olho” aberto no meio do editorial, é falsa em número e grau. O raio X da CUT mostra a maior central sindical brasileira representando o universo de 21,881 milhões de trabalhadores, dos quais apenas 1,837 milhões organizados em torno de entidades do funcionalismo público. Mesmo passando uma peneira mais fina para contabilizar como funcionários públicos todos os urbanitários, trabalhadores da saúde e da educação, a somatória de 5,898 milhões alcança apenas cerca de 25% da base cutista. Onde estaria então o predomínio do setor público?
2. É verdade que o referido editorial confessa o desconhecimento destes dados – mortal para quem quer julgar alguém – e apela para números de delegados ao Congresso da CUT de 1997. Afirma que os funcionários públicos eram 35% dos delegados, contrapondo este número ao percentual de trabalhadores com carteira assinada (29%). Mas e os restantes 36%? Na ânsia de provar sua falsa tese, o editorialista simplesmente omite este segmento composto principalmente de trabalhadores rurais, ao que se saiba, ainda sem carteira assinada, e em sua esmagadora maioria vivendo em condições bem distintas das dos “barnabés”.
3. Se o Estadão julgou que o Congresso teve importância para o País, a ponto de merecer um editorial condenando a CUT a uma representação de “barnabés”, porque então privar seus leitores de um acompanhamento minucioso do evento que durou quase uma semana? Se o Estadão tivesse acompanhado de perto o evento, teria relatado a seus leitores que a sucessão dos metalúrgicos a frente da Central começou a ser articulada há pelo menos três anos, quando eu, como candidato natural dos metalúrgicos, manifestei publicamente minha intenção de não concorrer ao cargo por entender que era preciso envolver na direção da Central outras categorias profissionais – de igual importância para o País, como era o caso dos bancários, professores e outros segmentos. Ou seja, o Estadão teria dito aos seus leitores que a mudança na direção é resultado de uma ação de revezamento consciente de seus dirigentes nos cargos da Central e não fruto de um falso “predomínio do setor público”, especulação confessa fruto de preconceito do jornal contra a CUT.
4. O Estadão fala ainda que a CUT (e sobra até para o PT), abandonou “princípios defendidos nas lutas operárias dos anos 80”. O jornal tem todo o direito de opinar sobre a condução política da Central e discordar da nossa opinião. Aliás, estas discordâncias existem até mesmo no interior da CUT e são exatamente elas que garantem à Central sua fidelidade maior aos princípios de democracia, liberdade e autonomia sindicais. Foram estes princípios que orientaram o surgimento da CUT e continuam mais vivos que nunca, como comprovam os duros debates ocorridos no Congresso – aos quais, infelizmente o leitor do Estadão não teve acesso.
5. Ao perder-se nesta visão preconceituosa sobre a CUT, o Estadão deixa passar a oportunidade de mostrar ao seu leitor que o movimento sindical vem sim, mudando seu perfil, e assumindo cada dia mais sua responsabilidade enquanto agente econômico, político e social. Perde a oportunidade de mostrar que ao abrir mão da presidência da CUT, os metalúrgicos contribuem para fortalecer ainda mais a Central, conseguindo promover uma sucessão sem maiores desgastes internos.
6. No lugar de informar seu leitor acerca dos debates políticos, sobre os quais mais de 2 mil delegados reunidos em Serra Negra debruçaram-se exaustivamente, para reafirmar, com a eleiçã