Basta de cinismo!

Poucas vezes o leitor e a leitora enfrentaram um inverno tão rigoroso quanto o deste ano. Um frio que nem o sol do meio dia consegue diminuir. Dizem pessoas experientes na repressão ao crime, que invernos como estes acabam se refletindo em queda nos índices de criminalidade. Se é fato, não sei. A verdade é que este frio tem agravado e muito a indignação pública neste Brasil afora.

E, não se trata apenas de uma reação natural à tempestade de lama que a cada dia ameaça mais fortemente o principal ninho dos tucanos, inclusive FHC. Diariamente você encontra nos jornais o combustível deste mau estar. Só para ilustrar, estão aí as marolas provocadas pela divulgação da pesquisa nacional do IBGE indicando uma queda de 7,1% na renda do trabalhador durante o ano de 1999.

Ninguém, em sã consciência, poderia esperar outra coisa. Um País que foi jogado numa recessão profunda, não poderia colher outro fruto senão a redução da massa salarial, da atividade econômica de forma geral com as consequências trágicas do crescimento dos índices de violência, de desemprego e de desagregação geral da família, da saúde, da educação. Nós todos estamos cansados de acompanhar esta tragédia diária que só não comove os burocratas que comandam os cofres públicos e priorizam apenas metas teóricas de juros, inflação, balança comercial para poder cumprir compromissos assumidos com o FMI.

O problema deste clima de indignação e revolta contra os governos neoliberais – expressos nas pesquisas que você também tem visto nos jornais – é que ele pode contaminar de forma mortal a consciência de cidadania de cada um de nós. Ou seja, pode levar-nos a desacreditar da nossa capacidade de mudar este País, de construir uma Nação sem desigualdades sociais, dignidade e justiça para todos nós.

A questão que fica é, portanto, como não perder a esperança num momento em que o mundo parece jogado num inverno sem fim… Nós, da CUT, nós cidadãos que alimentamos a certeza de que é possível reconstruir este Brasil temos algumas razões para acreditar. Na semana passada, inclusive tivermos oportunidade de reafirmar uma destas razões. Em solenidade realizada no nosso Sindicato, assinamos ao lado de lideranças políticas do PT na região um documento de compromissos para o próximo mandato das administrações municipais.

Repetindo o deputado federal José Genoíno, a dimensão regional da política é uma esfera fundamental para pensar a política. Ao apresentar à sociedade sua plataforma regional, o PT está dando uma demonstração da força de seus ideais, está sinalizando para a comunidade que acredita na possibilidade de reconstruir a Nação com base em outros pilares de ética na política e de eficiência na administração.

Imaginar que o ABC possa ter convivido até hoje com administrações municipais que trabalham descoordenamente, que não somam esforços, tem o mesmo impacto de pessimismo sobre a cidadania que a revelação dos mais obscuros desvãos do escândalo das verbas do TRT. Só um exemplo citado pelo prefeito de Mauá, Oswaldo Dias, do tipo de desmando que a proposta de plataforma regional tenta corrigir: São Bernardo tem de fazer coleta seletiva para poder mandar seu lixo para o aterro sanitário de Sertãozinho, em Mauá. Do contrário, as duas cidades estarão cometendo crimes contra o meio ambiente, contra a economia popular e, em particular contra a esperança deste nosso povo de ver um dia nossa região oferecer uma condição de vida melhor para todos nós.

Mas, enquanto aproveitamos os espaços para aprimorar nossa região, é preciso também trabalhar para tentar mudar o País. Precisamos também recuperar a certeza na nossa capacidade de construir um Brasil novo. Não dá mais para conviver com o cinismo de quem conduz o Brasil para o atoleiro ao mesmo tempo que pousa de democrata. Esta é a dimensão nacional da política, onde também é preciso reconstruir a esperança. E, nesta dimensão, também é preciso acreditar na nossa ca