BC vê espaço para cortar juros, mas quer mudança na poupança
A avaliação consta a ata da última reunião do Copom, quando a Selic foi reduzida em 1 ponto percentual, para 10,25% ao ano, em ritmo menor do que a queda anterior, de 1,5 ponto
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) avalia que o cenário de inflação garante espaço para continuidade do processo de queda da taxa básica de juro (Selic), mas que o afrouxamento adicional da política monetária depende de mudança “premente” nas regras de remuneração da caderneta de poupança. A avaliação consta a ata da última reunião do Copom, quando a Selic foi reduzida em 1 ponto percentual, para 10,25% ao ano, em ritmo menor do que a queda anterior, de 1,5 ponto.
Isso não é dito tão explicitamente, mas é o que se pode concluir do texto do documento, que tem uma linguagem técnica e rebuscada. Ao falar da previsão de inflação medida pelo IPCA para 2009, o Copom repetiu o texto da ata anterior, dizendo que a projeção do cenário de referência e do cenário de mercado está abaixo do centro da meta, de 4,50%. A novidade foi que o BC acrescentou a palavra “sensivelmente” nos dois cenários para indicar que a previsão está bastante abaixo dos 4,50%. O cenário de referência considerou o dólar a R$ 2,20 e a Selic a 11,25% no fim do ano, enquanto o de mercado levou em conta câmbio a R$ 2,25 e taxa básica de 9,25% em dezembro.
Apesar de dizer que entre as duas reuniões “continuaram se consolidando as perspectivas de concretização de um cenário inflacionário benigno”, o Copom afirma “que a continuidade do processo de flexibilização monetária torna premente a atualização de aspectos, resultantes do longo período de inflação elevada, que subsistem no arcabouço institucional do sistema financeiro nacional”. Entre esses “aspectos”, leia-se: a remuneração da caderneta de poupança, hoje em 6% ao ano, mais Taxa Referencial (TR), sem incidência de Imposto de Renda.
Ocorre que, se a taxa Selic cair para um dígito, alguns fundos de investimento em renda fixa e DI terão remuneração líquida abaixo da poupança. Só que esses fundos são grandes compradores de títulos públicos da dívida do governo. Se o dinheiro que hoje financia a dívida pública migrar para a poupança, o governo terá dificuldades fiscais e os bancos terão descasamento de ativos e passivos.
O presidente do BC, Henrique Meirelles, citou os “problemas” trazidos pela taxa de juros baixa em um país acostumado com inflação elevada. Ele falou não apenas da poupança, mas também das metas atuariais dos fundos de pensão, que costumam trabalhar com juros reais de 6% ao ano. De volta à ata do Copom, o documento diz que a curva de juros futuros de mercado ainda não reflete as previsões de inflação mais comportadas para este ano e o ano que vem. “O Comitê entende também que a melhora do cenário prospectivo para a inflação em 2009 e em 2010 não foi, até o momento, incorporada na estrutura a termo da taxa de juros”, diz o texto.
Alguns economistas avaliam que o BC poderia ter que reverter o processo de queda dos juros, para evitar uma volta da inflação no curto prazo, no caso de retomada da economia, e isso de certa forma está precificado nos contratos de juros futuros negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM & F). A respeito disso, o BC não vê riscos que o levem a dar uma guinada na condução de política monetária, caso a economia comece a se recuperar. A ata reconhece uma “melhora na margem” nas condições financeiras e na confiança dos agentes, mas entende que o desaquecimento da demanda “criou importante margem de ociosidade dos fatores de produção que não deve ser eliminada rapidamente em um cenário de recuperação gradual da atividade econômica”.
Do Valor Online