Biocombustível brasileiro não afeta preço dos alimentos

Há uma somatória de causas diferentes que empurram os preços da comida, porém o biocombustível feito a partir da cana não é uma dessas causas.

O biocombustível brasileiro
feito a partir da cana
não contribuiu para encarecer
os preços mundiais dos
alimentos. Este é um dos
consensos da 30ª Conferência
Regional da Organização
das Nações Unidas para a
Agricultura e Alimentação
(FAO), que acontece nesta
semana em Brasília.

Há uma somatória de
causas diferentes que empurram
os preços da comida.
No entanto, o debate pegou
fogo depois das declarações
do suíço Jean Ziegler, diretor
de Direito à Alimentação
da Organização das Nações
Unidas (ONU), que classificou
a produção de biocombustíveis
como crime contra
a humanidade. “A produção
de biocombustível não é
crime contra a humanidade,
desde que seja planejada de
forma correta, como o Brasil
está fazendo, com uma
política energética definida
e a criação do zoneamento
agroecológico ambiental”,
disse o ministro da Agricultura,
Reinhold Stephanes.
durante a Conferência.

Para ele, o Brasil não
corre risco de enfrentar
escassez de alimentos por
causa do cultivo de áreas
para a produção de biocombustível.
Fatores – O representante brasileiro
na FAO, José Graziano,
listou a alta nos preços
do petróleo, a quebra de
safras por causa de condições
climáticas adversas
e o aumento da demanda
por alimentos em países
Graziano (à esq.) defende produção de álcool a partir da cana
Antonio Cruz/ABR
como China e Índia como
possíveis responsáveis pelo
aumento dos preços de
alimentos. Ele afirmou que
o enfoque dado às causas
da inflação sobre a comida
varia de acordo com as declarações
feitas por alguma
autoridade importante.

“Semana passada o presidente
Lula esteve na Europa
e concentrou o debate em
torno dos biocombustíves.
Mas há duas semanas, o enfoque
maior era a alta dos
preços do petróleo afetando
a agricultura”, comparou.

Na última semana, Lula
atribuiu a alta nos preços ao
maior consumo de alimentos
pelos milhões de pobres
do mundo, que não tinham
acesso à comida e estão
tendo esse acesso agora.
De acordo com o ex-ministro
da Agricultura, Roberto
Rodrigues, os biocombustíveis
representam ameaça
à oferta de alimentos nos
países desenvolvidos, sem
matéria-prima e que têm de
subsidiar energias alternativas.

Milho caro – Nos Estados Unidos,
informou ele, os subsídios
ao etanol de milho equivalem
a pelo menos o valor da
produção. Lá, enfatizou, os
custos representam o dobro
em relação ao álcool combustível
extraído de canade-
açúcar no Brasil. Cerca
de 25% do milho produzido
nos EUA são convertidos
em combustíveis, o que reduz
em 80 milhões de toneladas
a oferta de milho para
alimentação. Na Europa,
acrescentou Rodrigues, o
custo chega a ser três vezes
superior.

Segundo ele, o que
acontece é que os especuladores
e agentes de mercado,
somados à desinformação,
misturam tudo no mesmo
saco todo tipo de etanol, o
de milho e o de cana, que
são diferentes. “A cana não
concorre com a comida
no Brasil. Dos 72 milhões
de hectares ocupados por
lavouras, 7 milhões são de
cana e metade disso é de cana
para etanol. Ou seja, 6%
da área total de agricultura
é para produção de álcool”,
descreveu.

A 30ª Conferência Regional
da Organização das
Nações Unidas para Agricultura
e Alimentação vai até a
próxima sexta-feira.

Biodiesel é alternativo e inclusivo

No Brasil, biocombustível
é também fator de
inclusão.

Metade dos cerca de
um bilhão de litros de biodiesel
previstos para este
ano virão de grãos produzidos
pela agricultura
familiar.

O biodiesel privilegia
o uso da mamona, soja, girassol
e outras.

Hoje são 100 mil famílias
(cerca de 500 mil
pessoas) integradas à cadeia
produtiva do biodiesel.

O setor vai crescer bastante.
A capacidade hoje
instalada é suficiente para
produzir 2,5 bilhões de litros
por ano, superior à
demanda para a mistura de
2% ao diesel de petróleo,
obrigatória desde o início
deste ano.

Isso mostr