Blog da Cidadania: Entenda o 3º turno midiático
Talvez o humorístico global Casseta & Planeta seja a melhor expressão do ódio que a Globo devota ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como se sabe, o “casseta” Marcelo Madureira , editor do programa, está entre o time de “pensadores” do anti-lulismo midiático, tendo sido cultuado naquele evento inesquecível da Associação Nacional de Jornais em que a “dona Judith” reafirmou a papel da grande mídia de braço auxiliar da oposição tucano-pefelê.
A edição desta semana da atração humorística da rede de concessões públicas de rádio e tevê da família Marinho, a pretexto do humorismo político veiculou um programa cheio de rancor e deboche – em vez de humorismo – contra o presidente da República. Um programa que não guarda a menor similaridade com os sentimentos da maioria absoluta dos brasileiros em relação àquele que chega ao fim de oito anos de mandato amado por seu povo como nenhum outro governante da história contemporânea deste país.
O estrebuchar do rancor global, um sentimento diminuto travestido de deboche e de tentativa de tripúdio contra a impotência da sociedade de impedir o uso político de concessões públicas, começa com um anúncio de jornal: “Procura-se emprego”. Para quem? Para o presidente que a mídia oposicionista tem dito que se exaspera por estar para perder as regalias do poder.
Até aí, ótimo. Lula manifestou mesmo tristeza por deixar um cargo cujo exercício gerou resultados tão auspiciosos ao seu povo. Brincar com isso me parece que seria um prato cheio para qualquer humorista que aborde a política em seu trabalho – e os que abordam costumam ser os melhores, para o meu gosto. A maldade está no uso de calúnias, de histórias inventadas como a de que o presidente seria alcoólatra, fato que jamais alguém comprovou por meio do menor indício sério.
Em dado momento do programa, a versão satírica de um apresentador de tevê apresenta a Lula a casa na qual ele morará depois que deixar a Presidência. A construção é uma grande churrasqueira na qual há um chuveiro de cachaça em que Lula mergulha de terno e tudo, sugerindo que se embriagará até cair quando deixar o poder.
A piada de mau gosto resume o desejo de transformar o fim do mandato de Lula em terceiro turno, onde a vitória seria da família que permanecerá no “poder” enquanto que Lula, na visão dessa família, será apeado dele – provavelmente para sempre. Para tanto, o uso descarado da concessão pública para infernizar o fim do mandato presidencial envereda pela tentativa de transformar em incompetente o governo que chega ao fim.
O cavalo de batalha, desta vez, é a transformação em escândalo nacional de um problema episódico e localizado no ENEM. Como se fosse algum absurdo ocorrer algum problema na realização de cerca de uma dezena de milhões de exames em um país deste tamanho.
Aliás, convenhamos, tratou-se de um erro bem menos sério do que a confecção de livros didáticos errados pelo governo de São Paulo, então ocupado por José Serra. Em um dos exemplos mais clamorosos, centenas de milhares de livros de geografia com mapas contendo dois Paraguais foram distribuídos a centenas de milhares de alunos da rede estadual de ensino. A mídia não deu um pio, comparando-se com o que faz por conta do ENEM.
Mas não é só a derrota eleitoral que açula a fúria midiática, assim como não é só a Globo que declarou guerra ao fim do mandato de Lula – o que não quer dizer que essa guerra persistirá em relação ao governo Dilma, por mais que seja provável que venha a ocorrer.
Matéria de hoje da Folha de São Paulo esclarece a fúria midiática no estertor do governo Lula. O ministro Franklin Martins (Comunicação Social) afirmou ontem que o governo está disposto a levar adiante a discussão de novas regras para o setor de mídia digital mesmo que não haja consenso sobre o assunto. “A discussão está na mesa, está na agenda, ela terá de ser feita. Pode ser feita num clima de entendimento ou de enfrentamento“, afirmou.
É evidente que a mídia tenta sinalizar ao governo Dilma o que haverá que enfrentar se levar adiante a proposta de estabelecer marcos regulatórios para a comunicação no Brasil. Repetindo o mantra sobre “censura”, Globo e companhia ignoram a estratégia do governo de trazer para o debate agências reguladoras de vários países desenvolvidos que exercem a regulação que se pretende por aqui sem que a imprensa desses países diga uma palavra sobre cerceamento de sua liberdade.
Essa é a grande batalha que haverá que enfrentar nos próximos anos. O governo Dilma chega com força – sobretudo no Legislativo e no Judiciário – para civilizar a comunicação no Brasil, pondo fim a uma farra em que empresários que se julgam donos do país usam concessões públicas para os próprios fins econômicos e políticos. Nunca antes neste país houve condição melhor para tanto.