BNDES vê retomada da produção industrial

O presidente, Luciano Coutinho, admitiu que "provavelmente teremos queda do PIB no primeiro trimestre, com recessão técnica, mas, pelo lado da demanda, o desempenho será muito melhor do que pelo lado da oferta, porque conseguimos sustentar o nível de renda"

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, disse nesta terça-feira (19) que “o processo de ajustes de estoques (no Brasil) está terminando” e “a economia brasileira vai surpreender os analistas do FMI este ano”, com desempenho melhor que o esperado.

Em palestra no 21º Fórum Nacional, no Rio, Coutinho admitiu que “provavelmente teremos queda do PIB no primeiro trimestre, com recessão técnica, mas, pelo lado da demanda, o desempenho será muito melhor do que pelo lado da oferta, porque conseguimos sustentar o nível de renda”.

“Poucas economias conseguiram fazer um ajuste de estoques tão rápido quanto a brasileira”, disse ele. Para Coutinho, nos próximos trimestres haverá recuperação da produção e do uso da capacidade instalada na indústria, que levará ao retorno dos investimentos.

Coutinho também afirmou que a recuperação do crédito para as pequenas empresas será fundamental para dar continuidade à recuperação. “Talvez seja o último passo importante da política anticíclica do governo”, alertou.

Coutinho notou que a crise não afetou os investimentos em infraestrutura e no setor de petróleo e gás. Segundo os levantamentos do BNDES, o ciclo de investimentos quadrienais em petróleo e gás vai saltar, quando se compara os períodos de 2007 a 2010 e de 2009 a 2012 – de, respectivamente, R$ 183,6 bilhões para R$ 269,7 bilhões. No total da indústria, empurrada pela infraestrutura e setor de petróleo e gás, os investimentos entre aqueles dois quadriênios devem saltar de R$ 380,2 bilhões para R$ 450,1 bilhões.

Outros setores, porém, ligados à exportação de commodities, foram mais afetados pela crise, por causa da contração do comércio mundial. Na comparação dos dois quadriênios, os investimentos previstos em papel e celulose recuam de R$ 20 bilhões para R$ 9 bilhões.

Coutinho chamou a atenção para a importância dos bancos públicos brasileiros, que foram responsáveis por 82% do aumento do crédito de setembro de 2008 a março de 2009. Nesse período, enquanto os bancos públicos (sobretudo BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica) aumentavam as suas operações de crédito em 18,3%, os bancos privados tiveram uma expansão na sua carteira de empréstimos de apenas 2,1%.

CAUTELA
A nota de cautela no segundo dia do Fórum foi dada por dois tradicionais participantes: o economista e consultor Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC; e Raul Velloso, especialista em contas públicas. Velloso centrou fogo na expansão dos gastos correntes, notando que uma parcela de 76% do total cresce sistematicamente acima do PIB. Pastore observou que uma política anticíclica baseada no aumento de investimentos seria mais eficaz da que o governo vem fazendo, mais centrada no aumento de gastos correntes. 

Do O Estado de S. Paulo