Bolsonaro extingue conselhos sociais, entre eles o Conade
Conselho da Pessoa com Deficiência e mais dezenas de colegiados que contam com participação civil na defesa de direitos podem desaparecer
Em mais um ataque àqueles que mais precisam do Estado, Jair Bolsonaro assinou na última sexta-feira, 12, um decreto que coloca fim aos conselhos sociais que integravam a Política Nacional de Participação Social, PNPS. Entre as organizações afetadas está o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, o Conade.
De acordo com a determinação do texto assinado, podem ser extintos, a partir de 28 de junho, dezenas de conselhos, entre eles, da Transparência Pública e Combate à Corrupção; de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de LGBT; de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos; de Erradicação do Trabalho Escravo; de Políticas sobre Drogas; dos Direitos do Idoso; de Segurança Pública; de Erradicação do Trabalho Infantil e o Comitê Gestor da Internet no Brasil, entre outros.
O diretor executivo do Sindicato, Carlos Caramelo, conselheiro do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), destacou que os conselhos são instrumentos importantíssimos para monitorar e elaborar políticas públicas, e que a extinção deles significa acabar com a democracia, já que o processo democrático não se dá só na eleição e sim pela participação popular.
“É uma atrocidade o que o governo vem fazendo com a sociedade brasileira e principalmente com os que mais precisam do Estado. Extinguir um órgão que pensa e elabora políticas públicas é desumano, essa é mais uma atitude absurda desse governo antidemocrático”, reforçou.
O ex-coordenador da Comissão de Metalúrgicos do ABC com Deficiência e ex-presidente do Conade, Flávio Henrique de Souza, enfatizou que é preciso envolvimento de toda a sociedade na defesa do Conade, bem como dos outros conselhos”.
“O Conade serve para cobrar os governos para que políticas voltadas à pessoa com deficiência sejam implementadas, é um controle social fundamental, inclusive para apontar onde se deve elaborar políticas públicas, onde de fato está faltando a participação do governo. Mas não só ele, todos os colegiados contidos nesse decreto”.
Flávio lembrou que o Conade fez parte do monitoramento da Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência com a delegação brasileira na ONU, em Genebra, na Suíça, em 2015, e que a pauta passa por todos os segmentos: criança e adolescente, mulher, negro, LGBT e idosos.
“Estamos mobilizando, junto à Comissão de Metalúrgicos do ABC com Deficiência, os conselhos municipais e estaduais, vamos fazer um chamado a entidades e a toda a sociedade para defender a permanência do Conselho. Não pode ser uma ação isolada. O chamado é para que todos se juntem a essa luta, se a gente não lutar o governo vai implementar”, afirmou o coordenador da Comissão de Metalúrgicos do ABC com Deficiência, Sebastião Ismael de Sousa, o Cabelo.
Sobre os Conselhos
Os conselhos, na sua maioria, têm por finalidade principal servir de instrumento para garantir a participação popular, a transparência, o controle social e a gestão democrática das políticas e dos serviços públicos, envolvendo o planejamento e o acompanhamento da execução destas políticas e serviços públicos. Sua composição é integrada por representantes do poder público e da sociedade civil e na maioria não remunera seus membros.
Sobre o Conade
A organização foi criada em 1999 para acompanhar e avaliar o desenvolvimento de uma política nacional para inclusão da pessoa com deficiência. Em 2003, foi incluído no governo e começou a fazer parte da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, também extinta por Bolsonaro.
Atualmente, o conselho estava acoplado ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Em janeiro, o Conade teve as atividades suspensas para ajuste, mas a ministra Damares Alves havia garantido que em abril ele voltaria a funcionar normalmente.