Brasil anuncia na ONU revisão da ditadura militar

Anúncio da Comissão da Verdade foi feito pelo ministro Paulo Vannuchi nesta terça-feira (02). Denúncias de diversas fontes apontam a responsabilidade da ditadura brasileira no desaparecimento de 400 opositores, dos quais 140 casos ainda não foram esclarecidos

 

O Brasil investigará a ditadura militar que governou o país entre 1964 e 1985, anunciou nesta terça-feira,(02/03), em Genebra, o ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi.

“A criação de uma Comissão Nacional da Verdade para apurar as violações dos direitos humanos ocorridas durante a ditadura”, é o instrumento que permitirá ao atual governo, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cumprir com esse objetivo, antecipou o ministro Vannuchi ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Proposta por decreto presidencial em dezembro passado, como parte de um Programa Nacional de Direitos Humanos, a citada Comissão vem sendo, no entanto, objeto de resistência de alguns comandos militares que, junto com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, ameaçaram renunciar se fosse colocado em prática.

O próprio Vannuchi respondeu que renunciaria se fosse esvaziado de conteúdo o plano de criação da Comissão, confirmando, agora, na ONU, a vontade de o presidente Lula concretizar esta ambição, antes do final de seu mandato.

Acusações de diversas fontes apontam a responsabilidade da ditadura brasileira no desaparecimento de 400 opositores, dos quais 140 casos ainda não foram esclarecidos.

“A intensa polêmica aberta com o lançamento do programa vem gerando um debate com intensidade inédita no Brasil, sobre a questão dos direitos humanos”, disse Vannuchi em discurso.

Acrescentou que o programa conta com o apoio explícito da Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Naty Pillay, que visitou recentemente o país.

“Por sua profunda índole democrática, o governo recebe com serenidade todas as críticas (…) e é com serenidade que vamos manter um amplo diálogo em busca de um consenso”, explicou Vannuchi.

A previsão é a de que o decreto se transforme em lei ainda neste mês, ao finalizar o trâmite parlamentar em curso.

Vannuchi disse à AFP que, num futuro, os arquivos da ditadura do Brasil poderão ser consultados na sede da UNESCO, em Paris, como forma de contribuir com “a memória do mundo”.

“Temos à disposição 11 milhões de páginas e continuamos trabalhando para localizar outras”, concluiu Vannuchi.

O presidente Lula inaugurou em maio passado um portal na Internet, onde já figuram documentos atribuídos à ditadura militar.

 AFP