Brasil começou a ser levado a sério pelo mundo, diz Financial Times
Muitos aspectos da política monetária e fiscal brasileira têm mais em comum com os países desenvolvidos do que com os emergentes
O Brasil começou a ser levado mais a sério pela comunidade internacional desde o ano passado, afirma o jornal britânico Financial Times, nesta terça-feira, em um suplemento especial de quatro páginas dedicado ao País.
“As ambições globais do Brasil frequentemente foram atrapalhadas no passado… Mas a estabilidade de seu sistema bancário e de seus mercados de capitais diante da crise mundial fizeram órgãos reguladores em outros países se interessarem por suas opiniões”, diz uma das reportagens do caderno, lembrando que autoridades brasileiras hoje integram organismos como o Fórum de Estabilidade Financeira e a Comissão da Basiléia para Supervisão Bancária, por exemplo.
Ainda segundo o jornal, muitos aspectos da política monetária e fiscal brasileira têm mais em comum com os países desenvolvidos do que com os emergentes. “Isso sem falar na força de suas instituições e na diversidade de sua economia”, completa a reportagem.
“Da maneira como as organizações multilaterais mundiais estão se modificando em um ritmo acelerado pela crise global, a posição do Brasil só deve se fortalecer”, diz o diário.
O jornal menciona ainda que o episódio em que o presidente americano, Barack Obama, foi flagrado dizendo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que ele “é o cara” significou um “reconhecimento de fato” para os brasileiros.
Velho Brasil
Em outra reportagem do mesmo suplemento, intitulada “Driblando a crise econômica”, o Financial Times comenta como o governo brasileiro e o setor privado têm enfrentado com certo sucesso a atual crise econômica global.
“Trata-se de uma democracia madura, com uma economia diversificada e uma população jovem e adaptável, fazendo a festa com cada vez mais empregos estáveis e melhores salários”, afirma o jornal.
“O Brasil é também uma potência em ascensão nos setores de alimentos e indústria, um futuro grande exportador de petróleo e o quarto mercado do mundo de ações e derivativos.”
Mas o diário lembra que existe ainda “um velho Brasil”, com “estradas e infra-estrutura dilapidadas, motoristas barbeiros, crimes violentos e a aceitação de que a corrupção é algo normal”.
“É também um Brasil onde os velhos e maus hábitos perduram e onde os políticos ainda se contentam em empurrar os problemas fiscais com a barriga”, diz a reportagem.
O Financial Times destaca, no entanto, que o fato de o Brasil estar saindo da crise mais rápido que o esperado “não significa que não tenha havido estragos, nem que ele esteja imune a novas reviravoltas mundiais”.
“Duas nuvens negras ameaçam estragar o cenário ensolarado do Brasil: uma é o perigo de mais problemas trazidos pela crise global; a outra é o risco de este ou de um futuro governo, animado pelo desgosto mundial pelos livres mercados, desvie do caminho da reforma e adote um caminho de mais intervenção estatal na economia.”
Mas o jornal acrescenta que o Brasil vem seguindo as mesmas políticas econômicas nos últimos 15 anos, ainda que com governos de diferentes correntes.
Sucessão presidencial
O Financial Times também dedica um artigo à situação política do Brasil, citando a polêmica em torno do senador e ex-presidente José Sarney, e escândalos de corrupção envolvendo deputados no passado.
“É difícil conciliar uma ganância e uma corrupção tão antiquadas com o Brasil moderno que está emergindo no cenário mundial como exemplo de governo de sucesso. Mas esses dois Brasis coexistem”, afirma o jornal.
O diário diz, no entanto, que a mentalidade de alguns políticos está mudando, mencionando o fato de alguns governos estaduais e municipais terem buscado ajuda de empresas de consultoria para administrar melhor suas finanças.
Isso, segundo o FT, terá um reflexo nas eleições presidenciais de 2010, em que a habilidade administrativa dos candidatos será levada em conta pelos eleitores.
“Os dois mais prováveis candidatos serão o governador de São Paulo, José Serra, e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Como nenhum deles tem muito carisma e ambos são vistos como espinhentos, eles esperam que os eleitores prestem mais atenção nas suas realizações do que na simpatia de seus sorrisos”, conclui o jornal.
Da BBC Brasil