Brasil condiciona volta do Paraguai ao Mercosul à entrada da Venezuela no bloco
A presidente Dilma Rousseff pretende telefonar ainda nesta segunda-feira ao presidente eleito do Paraguai, Horacio Cartes. O gesto marcará oficialmente o reconhecimento do Brasil à escolha do novo líder.
A avaliação de integrantes do governo brasileiro é de que o Paraguai só deve retornar ao Mercosul após o Congresso de lá aprovar a adesão da Venezuela ao bloco, e depois de uma análise por parte dos países que integram o grupo econômico.
O Paraguai foi suspenso do Mercosul após a controversa deposição do então presidente Fernando Lugo, em junho passado. Na ocasião, Brasil, Argentina e Uruguai decidiram pela entrada da Venezuela à revelia do Paraguai, o único país que resistia à medida.
Segundo a Folha apurou, observadores brasileiros baseados no país vizinho estão otimistas quanto as chances de readmissão, mas não prevêem o retorno antes de agosto, mês da posse de Horacio Cartes.
Primeiro, afirmam interlocutores da presidente Dilma, é preciso saber o resultado da eleição do Senado para então avaliar se haverá maioria simpática à votação.
Para o Brasil, o Partido Colorado deve usar a morte de Hugo Chávez como pretexto para quebrar resistências no Congresso e encaminhar a proposta de adesão do país hoje governado por Nicolás Maduro. Esperam, ainda, que o próprio Horacio Cartes lidere uma ação interna para viabilizar a proposta.
Durante a campanha, o novo presidente disse que, para ele, a Venezuela “está dentro do Mercosul” e considerou o ingresso legítimo, mesmo tendo a reprovação do Senado paraguaio.
Reconhecimento
O Brasil é o único dos três países-fundadores do Mercosul que ainda não reconheceu oficialmente o novo presidente do Paraguai, o colorado Horacio Cartes. O país está suspenso do bloco desde junho passado, após o contestado impeachment-relâmpago de Fernando Lugo.
Em seu Twitter, a presidente argentina, Cristina Kirchner, felicitou na noite de ontem o colorado e disse “esperá-lo no Mercosul”.
“Seu lugar está ali no Mercosul junto a todos nós, como sempre”, disse Cristina. “De novo estamos completos na América do Sul. É preciso.”
Ela disse ter telefonado para o novo presidente paraguaio na noite de domingo. “Do outro lado da linha, escuto a voz de Horacio Cartes saudando-me com muita alegria”, afirmou.
O presidente uruguaio, José Mujica, também telefonou para o vizinho. Segundo um comunicado da Presidência, Mujica convidou Cartes para a próxima cúpula do Mercosul, que será em junho, em Montevidéu. Disse ainda que pretende estar na posse do colorado.
“É muito importante que se tenham celebrado estas eleições com normalidade e que o país-irmão viva a democracia em sua plenitude”, disse Mujica, segundo o comunicado.
O governo de Nicolás Maduro, na Venezuela –país que entrou para o Mercosul enquanto o Paraguai estava suspenso–, parabenizou Cartes e espera a volta da democracia no país e que o novo governo “retome o caminho da democracia e da justiça social”.
O candidato colorado venceu com 45,8% dos votos, contra 36,9% obtidos pelo liberal Efraín Alegre, do partido do presidente Federico Franco.
Da Folha de S.Paulo