Brasil é lÃder no ranking da Mercedes-Benz
Novo investimento no paÃs que deverá abranger tanto desenvolvimento de produtos como capacidade produtiva. Empresa diz que governo brasileiro foi eficiente nas medidas que adotou para conter a crise econômica
A crise na Europa fez a Mercedes-Benz prestar mais atenção na filial brasileira e já pensar em investir mais na fábrica de São Bernardo do Campo (SP). A queda de vendas na Alemanha no acumulado até setembro foi tão grande que o Brasil passou na frente da matriz. A marca registrou uma retração de 57% em seu pais de origem “É uma crise nunca vista antes, pior do que na Segunda Guerra Mundial”, disse ontem o vice-presidente da Mercedes-Benz Caminhões para Europa e América Latina, Hubertus Troska, em passagem pelo Brasil.
De janeiro a setembro a marca vendeu 16,8 mil veículos acima de 6 toneladas na Alemanha. No mesmo período do ano anterior foram 39,6 mil. Enquanto isso, no Brasil, foram vendidas 21,8 mil unidades da mesma característica no mesmo período deste ano, o que representou uma queda em torno de 10%. A terceira maior operação da Mercedes, a Turquia, ficou distante, com 3,7 mil unidades vendidas no período.
A relevância da operação brasileira cresce não apenas porque na Europa a indústria de caminhões mergulhou numa crise, mas também porque, ao mesmo tempo, no Brasil o mercado de caminhões sofreu menos e por um tempo mais curto. Na avaliação da direção da Mercedes, enquanto o ritmo do mercado europeu não indica nenhum sinal de recuperação antes de 2011, no Brasil já é possível dizer que 2010 será melhor do que 2009, o segundo melhor ano em vendas no mercado interno.
Troska não dá nenhuma pista de quanto pode ser o novo investimento no país, que deverá abranger tanto desenvolvimento de produtos como capacidade produtiva. Trata-se, na verdade, de um reforço, já que há pouco mais de um ano a companhia anunciou um programa de R$ 1,5 bilhão, que, entre outras aplicações, servirá para aumentar a capacidade da fábrica de São Bernardo do Campo em 25%.
Executivo espanhol de família polonesa, Troska comanda a Mercedes-Benz na Europa e América Latina, justamente as duas regiões onde a marca é mais forte. A Mercedes é uma das três marcas de caminhões do grupo Daimler, que também vende nos Estados Unidos e Ásia.
Num cenário global, o reforço no Brasil serviria para ajudar o grupo Daimler a se manter como o maior produtor de caminhões do mundo. Sob a ótica de exploração de mercado emergentes, o grupo quer aproveitar a sua longa história e tradição no Brasil, já que a sua presença é ainda tímida na China e na Índia.
Mas, além disso, a montadora precisa preparar-se para enfrentar a concorrência. A Volkswagen Caminhões é líder do mercado brasileiro, com fatia de 30,9%. A vantagem é pequena em relação aos 29,1% da Mercedes. No entanto, este ano a Volks foi comprada pela MAN, conhecido concorrente da Mercedes na Europa.
Em relação à crise mundial, se alguém lhe pergunta quais ações governamentais para amenizar o problema Troska destaca, imediatamente cita Brasil e Alemanha. No caso dos caminhões, o governo brasileiro foi eficiente, segundo ele, ao criar uma linha de financiamento (Finame) especial, com juros mais baixos, além da redução do IPI. Na Alemanha, ele elogia o programa que prevê complementação salarial durante até dois anos para os empregados que tiveram a jornada reduzida. Isso evitou demissões. Mesmo assim, a Mercedes teve de encerrar os contratos dos trabalhadores temporários.
Hoje o número de empregados da marca no Brasil – 11,5 mil – supera os 11,3 mil da Alemanha. Enquanto a matriz dispensou os temporários, no Brasil a empresa anunciou este mês a abertura de 800 vagas para trabalhadores com contrato por prazo determinado de um ano e efetivou outros 510.
Troska diz que costuma visitar a filial brasileira quatro vezes ao ano. Desta vez, ele veio ao país para acompanhar a posse do novo presidente da Mercedes do Brasil. O alemão Jurgen Ziegler chegou domingo da Turquia, onde comandava a companhia desde 2005. Embora ainda em princípio de adaptação, Ziegler já sabe que um dos pontos fracos a atacar no Brasil hoje é a recuperação das exportações.
Do Valor Econômico