Brasil é o 4º destino preferido para investimentos, diz Unctad
Pesquisa da entidade da ONU prevê queda de 50% nos investimentos no mundo em 2009, mas retomada em 2010
De olho no mercado interno brasileiro, multinacionais apontam o País como o quarto destino preferido para investimentos nos próximos dois anos entre todas as economias no mundo. A constatação é da Conferência de Desenvolvimento e Comércio da ONU, Unctad, que prevê uma queda de 50% nos fluxos de investimentos no mundo em 2009. Mas uma leve retomada já seria registrada em 2010 e uma recuperação “substancial” dos investimentos ocorreria em 2011.
Os países que formam o Bric – Brasil, Rússia, Índia e China – ocupam quatro dos cinco primeiros lugares preferidos para investimentos até 2011. A afirmação é resultado de uma pesquisa realizada pelo órgão com mais de 240 multinacionais pelo mundo. Para metade das empresas, os planos são de investir em 2011 mais que o volume em 2008. 57% das multinacionais asiática dizem que planejam investir mais em 2011 que em 2008. 71% das americanas querem também uma “total recuperação” em 2011, depois de sofrer queda de 58% na aquisição de empresas no exterior entre 2007 e 2008.
O resultado indica que o processo de internacionalização será retomado, ainda que forma mais lenta. Outra diferença: o padrão mudará e haverá uma preferência cada vez maior será dada aos países emergentes. Segundo a Unctad, a crise deu um “novo ímpeto” a essa tendência. A pesquisa deixa claro que os países ricos voltarão a atrair investimentos. Mas crescerá o papel das economias emergentes nas estratégias de internacionalização das multinacionais.
A liderança é do mercado chinês, com 56% das preferências das multinacionais, seguida pelos Estados Unidos. A quebra de empresas americanas ainda atrairá investidores, inclusive de países emergentes, que buscarão adquiri-las por preços mais baixos diante da crise e dos processos de reestruturação.
Apesar de ser o epicentro da crise, o país foi o segundo principal destino de investimentos no levantamento, com 48% de preferência das multinacionais. O mercado interno americano, a desvalorização do dólar e ainda a perspectiva de que saiam da crise antes que a Europa e Japão também foram fatores que contribuíram. A terceira posição entre os principais destinos é da Índia.
Segundo o levantamento, o Brasil passou da quinta posição em 2008 para a quarta posição neste ano entre os destinos preferidos de investimentos de multinacionais. A nova posição reflete dois fatores: o maior interesse de multinacionais pelo mercado brasileiro e a queda da atratividade da Rússia, que ocupava até 2008 a quarta posição entre os destinos preferidos de investimentos. No atual levantamento, a Rússia está na quinta posição.
O Brasil é o quarto destino preferido das empresas europeias, superando Rússia e Reino Unido. O País também é o quarto destino dos japoneses. Já entre as empresas americanas, o Brasil é o quinto, curiosamente acima do próprio Estados Unidos. O País, porém, não está entre os seis destinos preferidos dos asiáticos.
A pesquisa apontou que o principal determinante para os investidores no mundo será o tamanho do mercado onde os projetos ocorrerão. Em segundo lugar, vem a taxa de crescimento desses mercados. Incentivos fiscais vêm apenas no 13º principal motivo. No caso d Brasil, 20% das empresas indicaram que investiriam no País por causa do tamanho de seu mercado. 19% delas afirmou que o motivo era a perspectiva de crescimento da economia. A falta de eficiência de governo e infraestrutura ainda são os pontos de fraqueza.
25% das multinacionais entrevistadas indicaram o Brasil como o destino preferido de seus investimentos até 2011. O Brasil, ainda em 2009, está sendo beneficiado por um comportamento estável dos investimentos no setor agrícola. “O Brasil tem amplos recursos naturais, um mercado doméstico que cresce e tem mostrado que poderá sair da crise com certo conforto”, disse James Zhan, autor do levantamento. Para ele, o setor manufatureiro, minério e agricultura devem receber o maior volume de investimentos.
O levantamento não significa que o Brasil receberá um maior volume de investimentos que os países ricos. Mas que um número maior de empresa vê o País como um destino mais atraente que, por exemplo, todos os países da Europa Ocidental. Entre janeiro e maio deste ano, os investimentos no País chegaram a US$ 11,2 bilhões. O volume foi o segundo maior da década nesse período.
A perspectiva para 2009 é de US$ 25 bilhões, segundo o levantamento com o mercado financeiro feito pelo Banco Central. O valor é inferior ao recorde de US$ 45 bilhões em 2008. Mas se a projeção para 2009 se confirmar, o volume será o sexto maior desde 1947 e o quarto mais importante da década. “O Brasil caminha bem, um crescimento deve ocorrer e o País desenvolve novas indústrias como de etanol e mineração”, alertou Zhan.
Crise
No restante do mundo, a Unctad admite que os investimentos sofreram um queda de 54% no primeiro trimestre do ano. As aquisições e fusões sofreram uma redução ainda maior, de 77%, com queda de 50% nos emergentes. Se tendência de investimentos em geral for mantida, a projeção para 2009 é de que a queda será de quase metade em comparação a 2008.
Os mais afetados serão os países ricos, com redução de 60%. Mas os países emergentes mostrarão certa resistência, com queda de “apenas” 25%. Em 2008, o mundo já sofreu um queda de 15% nos investimentos, depois de atingir recorde de US$ 1,9 trilhão em 2007.
85% das multinacionais indicaram que foram atingidas pela crise e que tiveram de rever seus investimentos para 2009. 58% delas cortarão investimentos diante de queda nas vendas, menos acesso a capital e a empréstimos e ainda a queda nas ações.
As mais atingidas foram as multinacionais da Europa e Estados Unidos e seus investimentos para essas mesmas regiões. Para os próximos dois anos, a Unctad prevê uma migração de parte dos recursos para os países emergentes.
Os investimentos latino-americanos ao mundo caíram em 30% entre 2007 e 2008, a maior redução entre todas as regiões. As aquisições feitas pelos latino-americanos no mundo caíram em 58%.
No geral, os setores mais atingidos foram os de automóveis, minérios e químicos, além do varejo. Já o setor farmacêutico mostrou resistência e tem uma das melhores projeções até 2011.
Do O Estado de S. Paulo