Brasil é o país de maior crescimento do Goldman Sachs
O Banco cresceu cinco vezes de tamanho no Brasil nos últimos dois anos
O Brasil é hoje o lugar onde o Goldman Sachs mais cresce no mundo, segundo seu executivo-chefe e chairman Lloyd C. Blankfein, pela primeira vez no País desde que assumiu o cargo, em 2006. Ele veio a São Paulo junto com o conselho dirigente do banco para uma reunião no fim de semana. Foi uma forma de mostrar comprometimento com o Brasil, “um lugar que representa o que há de melhor dos nossos negócios, uma região muito importante para nós”.
Segundo Blankfein, o Goldman Sachs cresceu cinco vezes de tamanho no Brasil nos últimos dois anos. “Nós queríamos mostrar aos nossos conselheiros essa parte fundamental do nosso banco e apresentar nossos clientes no Brasil, além de proporcionar uma troca de informações entre esses clientes e os conselheiros”, explica Blankfein.
Ele revela que outros integrantes do conselho do Goldman Sachs quiseram fazer o encontro no Brasil “para promover os interesses de suas companhias no país”, como é o caso de Lakshmi N. Mittal, chairman e CEO da ArcelorMittal. Blankfein lembra que o presidente do Goldman, Gary Cohn, esteve no Brasil cinco vezes nos últimos dois anos. “É o lugar para o qual Gary mais viajou nos últimos anos no mundo todo”, afirmou, durante entrevista ao Valor em sala no hotel Fasano, na presença de Cohn e de Valentino Carlotti, o Val, presidente do banco no Brasil.
A ideia, segundo Blankfein, é continuar a ampliar o banco no Brasil no mesmo ritmo dos últimos anos. “A área que nós teremos agora um crescimento exponencial é a de gestão de fortunas de pessoas físicas”, completa Cohn. Segundo ele, o banco já montou fundos no Brasil com capital próprio e está construindo um histórico de rentabilidade para lançar esses fundos para o mercado em breve.
Em fevereiro, o Goldman abriu sua corretora, a primeira autorizada a operar na BM&FBovespa após as novas regras de acesso, que passaram a vigorar em 4 de novembro de 2008. “Agora, nós temos um Goldman Sachs completo no Brasil, com todas as áreas de atuação presentes nos outros lugares do mundo”, diz Blankfein, no banco há 27 anos.
Além das atividades tradicionais de banco de investimento – assessoria em fusões e aquisições, emissão de dívida ou ações -, o Goldman não descarta fazer novos investimentos com capital próprio no país. As áreas escolhidas são de infraestrutura, “em parcerias com outras empresas”, segundo Cohn, e os setores de commodities e imobiliário.
Cohn não negou perdas com private equity – compra de participação em empresas para depois tentar vendê-las com lucro – no Brasil, mas Blankfein afirmou: “Eu estou satisfeito com nossa performance; o mercado está muito difícil”. Ele diz que o banco não tem nenhum fundo de private equity dedicado à região. “O Goldman Sachs investe seu dinheiro globalmente.”
O foco no Brasil se justifica, segundo ele, pois a economia brasileira está se recuperando primeiro do que as outras. “O país exporta commodities, mas tem também uma importante indústria e possui uma economia diversificada”, afirma. Mesmo quando todas as economias estavam se retraindo, o Brasil estava “menos pior”, afirma. O sistema financeira brasileiro, na sua visão, se mostrou menos alavancado e não se desintegrou, permanecendo sólido. “Há empresas e bancos capitalizados no país, com tudo para aproveitar as oportunidades que vão se apresentar no país e fora dele”, diz.
As eleições presidenciais de 2010, no seu entender, não são um fator de instabilidade. “O bom trabalho que foi feito nos últimos anos deixou as pessoas confortáveis com o sistema político”, afirma. Além disso, segundo ele, nenhum dos principais candidatos à presidência quer fazer “mudanças radicais”. No seu entender, “a política geral que está levando o Brasil à prosperidade será continuada”. Isso significa “políticas monetárias e fiscais disciplinadas e muito efetivas e também uma moeda estável”.
O Goldman Sachs é tido como um dos bancos que melhor se saíram em meio à crise, após registrar perdas de menos de US$ 8 bilhões desde o estouro da bolha imobiliária que derrubou o Bear Stearns, a Lehman Brothers, a Merrill Lynch e forçou gigantes como o Citigroup e o suíço UBS a precisar de ajuda dos seus governos. O Goldman, que vinha entre os bancos de investimento mais lucrativos antes da crise e chegou a apostar contra os ativos tóxicos de hipotecas americanas de alto risco, também foi forçado pelo Tesouro americano a pegar ajuda de US$ 10 bilhões, mas devolveu o dinheiro neste mês.
Para sobreviver à tempestade, no entanto, o Goldman teve de se tornar uma holding bancária – deixou de ter licença apenas de banco de investimento -, o que significa necessidade de mais capital e menor possibilidade de alavancagem, o que pode comprometer seus lucros futuros. Blankfein frisa que a licença de holding não muda os negócios do banco. “Nós não seremos uma instituição com muitos depósitos, nós não teremos negócio de varejo, nós somos um banco de investimento desde 1869 e nós vamos continuar a ser um banco de investimento”, diz. Hoje, o Goldman Asset gerencia US$ 771 bilhões em ativos de terceiros.
Blankfein diz que não vê problemas em ser regulado pelo Fed, o banco central americano. Se mostrou a favor também de outras mudanças na regulação do sistema financeiro propostas pelo governo Barack Obama. “Será necessário maior transparência e nós não vemos problemas nisso”, afirma. Ele percebeu também interesse dos reguladores em transformar a maior parte dos bônus dos executivos dos bancos de investimento em ações.
Na sua visão, o pior da crise já passou. “Mas nós tomamos precauções e não gerimos a firma como se o pior tivesse acabado”, diz ele. “Nós estamos mais líquidos do que geralmente éramos, nós temos mais financiamento do que usualmente tínhamos, nós estamos menos alavancados do que geralmente éramos. Nós gerimos a nossa firma como se os elementos da crise continuassem a persistir”, conta.
Para Blankfein, todo o estímulo monetário e fiscal dos bancos centrais continua necessário e os perigos de uma recessão mais profunda, do desemprego e da deflação continuam a se sobrepor aos riscos de inflação no longo prazo. Ele não nega, no entanto, o risco de “execução” quando o Fed tiver de retirar esses estímulos da economia.
Do Valor Econômico