Brasil entra na lista de prioridade dos lançamentos globais
Ford New Fiesta no Salão do automóvel, em Paris. Foto: Divulgação
Ter o Ford EcoSport lançado primeiro no Brasil e só meses depois na Europa ou o protótipo do Peugeot 2008 mostrado pela primeira vez ao mundo no Salão de Paris e já com a confirmação de que será feito em solo brasileiro são duas notícias que confirmam a entrada do país na lista de prioridades das montadoras. Não faz muito tempo que o consumidor brasileiro tinha que aguardar por cinco anos ou até mais um lançamento assim. Muitas vezes, a demora era tanta que o modelo já chegava defasado. O que mudou tudo isso? Poder de consumo. É o que apontam as montadoras.
“Hoje o Brasil é um mercado extremamente importante na estratégia das montadoras, isso porque o poder de consumo com o aumento da renda deixou o consumidor brasileiro mais exigente e atraiu novos concorrentes, o que torna o mercado muito mais disputado”, afirma o diretor geral da marca Peugeot no Brasil, Frédéric Drouin, responsável pela renovação no país de todo o portfólio da montadora.
De acordo com o presidente do grupo PSA no Brasil e na América Latina, Carlos Gomes, este movimento começou há dez anos, mas está mais visível agora, quando o mercado brasileiro conquistou a quarta colocação mundial em vendas, superando a Alemanha e atrás somente de Estados Unidos, China e Japão. “Hoje, o brasileiro tem renda maior, taxas de juros menores, incentivo do governo com a redução de impostos como o IPI e crédito fácil. Com isso, ele passou a poder não só comprar um carro melhor, mas como também passou a exigir produtos melhores”, explica o executivo.
E é por isso que todas as montadoras incluem o Brasil em sua rede de polos de engenharia globais para o desenvolvimento de novos produtos. “O lançamento do 208 vai acontecer 8 meses depois de sua estreia na Europa e será produzido no Brasil. É um investimento muito importante. E o 2008 já foi criado pensando no Brasil. Isso é muito positivo, uma grande conquista”, destaca Drouin.
Como o 2008, projetos de marcas “top” já são anunciados para o país. A Mercedes-Benz, por exemplo, não esconde que o protótipo do salão, o CLA, um cupê de quatro portas, será vendido no Brasil, assim como um futuro SUV compacto que nem nome tem ainda. Além disso, novas marcas premium podem chegar ao país, como a Cadillac. O vice-presidente da General Motors do Basil, Marcos Munhoz, confirmou ao G1 que a GM estuda a estreia da marca no país.
Além da força econômica, o que dá um empurrão a essa aproximação de lançamentos e marcas é a estagnação das economias desenvolvidas. “Os mercados emergentes e mais precisamente os Brics (Brasil, Índia, China e Rússia) são claramente a prioridade das montadoras para os próximos anos”, ressalta o diretor da consultoria Jato France, Sébastien Viaud.
7ª geração do Golf e New Fiesta
A Volkswagen desconversa, mas também não nega. Entre os burburinhos dos bastidores do Salão de Paris mais comentados está a tão esperada chegada da 7ª geração do Golf no mercado brasileiro, lançada no salão francês. No Brasil, o carro está na “4ª geração e meia” (passou por um facelift) porque sempre teve um patamar satisfatório de demanda e, com isso, a VW deu prioridade a lançamentos com mais volumes de vendas ou de segmentos mais em moda, como os SUVs e sedãs.
Com tal estratégia, o tempo foi passando e o consumidor só viu as outras gerações por foto ou se viajava para outro país. Com a chegada da nova geração e a total defasagem, esta estreia justifica o investimento para pular gerações e trazer o mais novo Golf para o Brasil, seja com produção local ou por importação. Até porque, a concorrência tem se dado bem com modelos compatíveis, como o Chevrolet Cruze, Hyundai i30, Citroën DS3, entre outros.
O New Fiesta vem nesta onda. Estreia agora para o mundo e logo chega ao mercado brasileiro, onde também será produzido e sem modificações estéticas. O que se vê em Paris é o que será visto em São Paulo.
Quarta geração do Clio em dúvida
O Renault Clio está descartado para o Brasil, pelo menos por enquanto. O que aconteceu com o compacto francês foi uma revolução em seu conceito, para qualquer mercado. Ele passou a ser um hatch completo e fashion. Na Europa, o carro não pode ser considerado premium, mas está bem equipado e com acabamento muito superior ao antigo, que também nunca chegou ao Brasil. Apesar de agora ter mais valor agregado, o custo para desenvolver um motor flex para o combustível brasileiro seria muito alto.
De acordo com a Renault, o custo do carro é alto, o que não justificaria uma produção brasileira. Se for importar algum dia, a montadora francesa diz que tratará o carro como um hatch premium. Mas mesmo assim, o volume teria de justificar o investimento – na Argentina, por exemplo, o negócio compensatia, de acordo com a Renault.
No entanto, por enquanto no Brasil, a montadora se concentra em modelos “de alta quantidade”, como Sandero e Logan – que já estão de cara nova apresentada pela romena Dacia e serão adotados no Brasil em breve -, Duster e Fluence. O único modelo diferente que a montadora já confirma é o Fluence turbo, que servirá como carro de imagem para a marca.
Porém, embora hoje o Clio 4 não seja prioridade, a própria Renault ressalta que a entrada do carro nos planos não é descartada. Quem sabe, em médio prazo.
Trax espera México
O que emperra agora muitos lançamentos é a falta de estabilidade nas relações comerciais e da indústria com o governo. Primeiro entrave é o novo regime automotivo, que não só vai definir as novas regras para se produzir ou importar no Brasil, como também tem que dar garantia de que o jogo não mudará de cinco em cinco minutos. “Essa ‘instabilidade’ prejudica o Brasil”, diz Gomes.
O outro ponto é o acordo com o México, que depende de cotas de importação daquele país e está para ser renovado. Entre os modelos que a incerteza prejudica está o Chevrolet Trax. De acordo com Marcos Munhoz, a restrição de cotas do acordo atrapalha o lançamento de produtos que poderiam vir da fábrica mexicana. “Do jeito como está agora, se eu importo o Trax do México, prejudico o Captiva, um produto que vende muito bem”, reclama.
Do G1