Brasil|Na chuva pra se molhar

Na segunda posse de Lula, o presidente reeleito e o público parecem ter saído da festa com a mesma expectativa: mais desempenho no segundo mandato

Por João Soares
 

Ônibus fretado
Denize (em pé, de
chapéu) trouxe toda a família para a posse

Desde as primeiras horas de 2007 chovia sem parar em
Brasília. Chegou-se a dar como certo o cancelamento da cerimônia. Do
outro lado da rua, na Praça dos Três Poderes, milhares de pessoas se
recusavam a acreditar. “Até São Pedro conspirou a favor, né? Você viu?
Na hora mais importante, não choveu”, comentou a assistente social Vera
Lúcia dos Anjos, de 43 anos, que saiu de Cuiabá (MT), com a família,
para passar uns dias em Brasília e assistir à festa da segunda posse do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Mesmo com a chuva, o povo
compareceu para prestigiar. Foi espetacular”, emendou o marido de Vera
Lúcia, o professor de Educação Física Lindomar Barros, de 42 anos. Na
opinião de Vera Lúcia, os problemas do primeiro mandato deixaram claro
que ainda é preciso percorrer um longo caminho para que o Brasil
consolide sua democracia. E isso será possível com o aumento da
participação popular.

O artesão
Floriano Lins da Silva Jr., de 37 anos, viajou 19 dias num Gurgel 1980
cheio de cartazes, bandeiras e inscrições, especialmente para assistir
à posse. Ele saiu de Pesqueira (PE). Floriano acredita que os
escândalos do ano passado ajudaram a reduzir o público, mas não acha
que o povo tenha se decepcionado. Como prova, mostra as cartas
endereçadas a Lula, que recebeu de pessoas humildes ao longo da viagem
e que entregaria “em caráter confidencial” ao destinatário.

O
aposentado José Milhomen, de 67 anos, acredita que a diminuição do
público na segunda posse teve a ver com o caráter repetitivo da
cerimônia. “Agora é só uma passagem. Mesmo assim, está sendo uma festa
maravilhosa”, ressalta. Natural de Fortaleza (CE), Milhomen está em
Brasília desde a inauguração, em 1960, e diz que Lula é o melhor
presidente de todos os que passaram pela capital depois de Juscelino.
“Estou mais confiante agora do que há quatro anos”, garante, usando
como argumento o fato de o presidente ter se coligado “a quase todos os
partidos”.

Mais povo

A
tentativa de governo de coalizão anunciada assim que as eleições
terminaram tem sido apontada pelo presidente e auxiliares como
fundamental. Mas todos sabem que ainda é cedo para comemorar que a
classe política tenha amadurecido e convergido para um mesmo projeto.
Prova disso é a decisão do presidente de tomar posse sem anunciar a
nova composição ministerial, que só acontecerá após a eleição das mesas
diretoras do Senado e da Câmara – o primeiro grande teste da coalizão.

Na
dúvida, a professora Denize Souza Reis, de 50 anos, aposta em outro
tipo de sustentação. “O povo precisa estar junto com ele, não só no
apoio, mas também nas cobranças”, resume ela, que, junto a outras 21
pessoas da mesma família, saiu de Coronel Fabriciano (MG) e viajou 15
horas em ônibus especialmente fretado para a posse. “É a realização de
um sonho”, afirma Denise, que não pôde estar na posse de 2003 e para os
próximos quatro anos espera mais investimentos na educação.

Investimentos
em pesquisa e qualificação de mão-de-obra também são desejos do biólogo
Bruno Ramos, de 38 anos, morador de Brasília e professor da rede
pública. “Tudo bem investir no ensino básico, é importante. Mas tem que
investir também na pesquisa, principalmente para cuidar da nossa
biodiversidade”, diz. Apesar de ir à festa com uma bandeira do PT,
Bruno não votou em Lula. “Sou apartidário no momento. Mas estou do lado
de quem quer que este país melhore e torço pelo Lula”, justifica.

O
funcionário público Ronaldo Alves chegou ao fim do primeiro governo
Lula tão confiante como no início. Há quatro anos, pedalou de Teresina
(PI) a Bras