Brasil quer abrigar fórum sobre cultura
ONU dá apoio a projeto de reunir líderes mundiais em 2010 para debates sobre temas religiosos e culturais. "Apóio o Brasil e estarei lá", declarou ao Estado o rei da Espanha, Juan Carlos. "O Brasil é o eixo para as Américas, para os países emergentes e mesmo para a África", afirmou o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero
A diplomacia brasileira quer abrigar em 2010 o que a ONU (Nações Unidas) está chamando de “o maior projeto de paz do século 21”. A idéia do governo Lula é a de convocar uma conferência internacional em 2010 entre os líderes mundiais para debater formas de garantir o diálogo entre diferentes religiões e culturas.
O projeto foi lançado no ano passado pela Espanha e Turquia e acabou adotado pela ONU, com o nome de Aliança de Civilizações.
“Apóio o Brasil e estarei lá”, declarou ao Estado o rei da Espanha, Juan Carlos. “O Brasil é o eixo para as Américas, para os países emergentes e mesmo para a África”, afirmou o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero.
Ambos estiveram ontem na sede da ONU em Genebra para a inauguração da sala denominada de Aliança das Civilizações, um projeto artístico que custou US$ 30 milhões e já tem sido chamada de “Capela Sistina do século 21”.
O representante da ONU para o projeto Aliança de Civilizações, o ex-presidente de Portugal Antônio Sampaio, explicou ao Estado que há uma forte inclinação da ONU para aceitar o Brasil como sede da conferência. “O Brasil tem tudo para ser o símbolo do projeto, já que tem uma população que mistura todas as etnias e religiões”, afirmou Sampaio.
O projeto prevê a criação de programas nacionais para a melhor incorporação de imigrantes em todo o mundo, melhor entendimento entre as religiões, maior diálogo entre governos e a tentativa de desativar a tensão entre o Ocidente e o mundo islâmico. O Brasil até designou um embaixador para o assunto, José Augusto Lindgren Alves.
Lula, com a conferência, teria o objetivo de fechar seu mandato no centro do debate mundial, depois de ter promovido uma política externa mais próxima da África, dos países emergentes e dos países árabes. Há um mês, o chanceler Celso Amorim foi o primeiro ministro de Relações Exteriores do Brasil a visitar o Irã em mais de 20 anos.
MULTILATERALISMO
A defesa da sala mais polêmica da ONU, doada pelo governo espanhol, acabou se convertendo em um comício em defesa do multilateralismo. O secretário-geral da ONU, Ban Kin-moon, destacou que a nova sala representa um “novo símbolo do multilateralismo”, no qual “pequenos e grandes terão mesmo peso”.
A obra do artista espanhol Miquel Barceló muda de cores dependendo do lugar de onde se olha e é formada por estalactites gigantes.
“Essa sala é uma metáfora do mundo. Cada um tem sua perspectiva. Mas estamos todos juntos, nessa caverna”, disse Zapatero. “Os países e os povos têm perspectivas diferentes sobre os desafios que devemos afrontar”, disse Ban. “Mas essa obra tem uma correlação direta com o multilateralismo, que é hoje a melhor solução para os desafios globais”, afirmou.
O Estado de S.Paulo