Brasil tem 60 milhões de veículos fabricados

Segundo Anfavea, cerca de 47% da produção foi concentrada no ABC

O Brasil atingiu no fim do primeiro semestre a representativa marca de 60 milhões de veículos fabricados. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) começou oficialmente a contagem em 1957.

Berço da indústria automobilística, o Grande ABC tem parcela significativa nesse resultado. A Anfavea não tem a contabilidade, mas pelo menos 47% desses 60 milhões de veículos – carros, comerciais leves, caminhões e ônibus – foram produzidos na região.

A indústria demorou 32 anos para atingir 20 milhões veículos produzidos – marca conquistada em 1989. Foram precisos mais 13 anos para chegar a 40 milhões, número obtido em 2002. Menos de oito anos depois, o Brasil atinge 60 milhões.

Parte dessa produção não existe mais, já que o veículo é objeto de consumo e cerca de 12% foi exportada. A frota circulante do Brasil está atualmente em 27,5 milhões de veículos ,segundo a Anfavea.

“Sessenta milhões é uma marca fantástica, mas poderia ter sido realizada antes”, acredita Francisco Satkunas, ex-executivo da General Motors e atual conselheiro do SAE-Brasil (Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade). “Tivemos décadas perdidas em razão de crises econômicas. A indústria sofreu diretamente os reflexos.”

Quem vê o mercado girando quase próximo das 3,5 milhões de unidades produzidas por ano, talvez não se recorde dos amargos anos 1980, onde a média anual esteve abaixo das 600 mil unidades. O mercado de automóveis era basicamente concentrado em quatro marcas – Volkswagen, General Motors, Ford e Fiat.

Mas do início da década de 90 para cá, o mercado se abriu e conta atualmente com 25 montadoras – incluindo fabricantes de tratores e máquinas agrícolas. “A população aumentou, o poder aquisitivo melhorou, e a indústria se expandiu com muitos produtos – sem contar os importados”, afirma Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK.

Mesmo perdendo a hegemonia a partir de 1976 com a inauguração da Fiat, em Betim (MG), o Grande ABC ainda exibe números vigorosos. Atualmente, a região detém 26% da produção nacional, que deve alcançar neste ano 3,4 milhões de unidades. Já o Estado de São Paulo concentra cerca de 46% de todo o País.

Em 2009, as sete fábricas das sete montadoras instaladas na região – Ford, General Motors, Volkswagen, Mercedes-Benz, Scania, Karmann Ghia e Toyota (autopeça) – produziram 1,1 milhão de unidades, das quais 140 mil foram exportadas.

“Além da força produtiva do pólo paulista, onde o Grande ABC se sobressai, quase todas as marcas têm aqui na região seus centros inteligência e desenvolvimento”, reforça Garbossa.

Analistas consideram que o carro brasileiro acompanha a tecnologia de ponta aplicada em todo o mundo. Em alguns casos está na dianteira, como é o flexível. Veículos com motores preparados para rodar tanto com álcool quanto gasolina já ultrapassam a barreira de 10 milhões de unidades. A tecnologia está em 90% dos carros feitos no País.

Projeções indicam que o Brasil levará menos de 15 anos para dobrar a marca de 60 milhões. Atualmente, a indústria possui capacidade instalada de 4,2 milhões por ano, mas se estrutura para elevar nos próximos três anos a capacidade instalada acima de 6 milhões anuais.

O presidente da Anfavea, Cledorvino Belini, afirma que o País tem de se modernizar para que o setor aproveite as oportunidades que o crescente mercado brasileiro proporcionará a fabricantes nacionais.

O executivo defende “choque de competitividade” para que gargalos na produção, problemas burocráticos e estruturais do Brasil não prejudiquem o veículo brasileiro na concorrência tanto no mercado interno quanto externo.

“Passamos por momento de decisivo”, afirmou Rogelio Golfarb, diretor da Ford para assuntos corporativos e governamentais. Para ele, o Brasil terá definir a estratégia de como irá competir em nível global nos próximos anos.

Suculento mercado nacional está no alvo de todas as marcas
A despeito do crescimento vertiginoso do mercado nacional nos últimos anos, o Brasil continua muito apetitoso. De acordo com dados da Anfavea, o País ainda tem ainda um automóvel para cada 6,9 habitantes.

Só para se ter uma idéia, no México, que tem um perfil parecido com o do Brasil, a média é de um carro para cada quatro habitantes. Nos Estados Unidos, há praticamente um carro por pessoa, com a média de 1,2.

“É esse vasto povo desmotorizado que dá a certeza do crescimento contínuo do mercado nacional para fabricantes de todo o mundo”, declara Jackson Schneider, executivo da Mercedes-Benz e ex-presidente da Anfavea.

Outro dado que indica o potencial do crescimento é que o País tem apenas 5,2% da produção mundial de veículos – estimada em cerca de 3,4 milhões de unidades por ano. A América concentra 20,6% da produção, onde a grandeza do mercado norte-americano, de 10 milhões de unidades anuais, garante a maior parte do volume no nosso continente.

Com avanço dos coreanos, japoneses e chineses, a Ásia detém atualmente 50,5% da produção mundial. É esta força de escala que causa arrepio nos concorrentes dos asiáticos.

Prestes a se tornar o quarto maior do mundo, o mercado brasileiro está cada vez mais na mira deles. Por isso, fabricantes locais já se preparam para enfrentar chineses, que prometem trazer para o Brasil carros compactos com preços muitos competitivos.

Da redação com Diário do G. ABC