Brasil tem quinto menor custo de produção em ranking de 14 países
Entre os custos de produção da indústria de transformação, os que mais contribuem negativamente para o Brasil na comparação com outros países são energia, tributação sobre lucro e locação de instalações. Em outros itens, como mão de obra, o Brasil ainda mantém competitividade quando o alvo de comparação são as economias mais maduras, como Alemanha, Reino Unido, França e Estados Unidos, mas fica atrás em relação aos países considerados emergentes, como China, Índia, Rússia e México. Em relação à tributação sobre lucro, energia, e locação de instalações, porém, o custo brasileiro é maior que o de várias economias, seja na comparação com países emergentes ou desenvolvidos.
A conclusão é de um levantamento da KPMG sobre competitividade, que comparou o peso dos principais custos de negócios em diversas atividades em 14 países. A China lidera a classificação como o menor custo para negócios. O Brasil ficou em quinto lugar. O Japão tem o custo mais caro de todos, 9,4% maior que o dos Estados Unidos. A pesquisa elegeu algumas cidades para retratar os custos dos diferentes países. No caso do Brasil foram considerados São Paulo e Belo Horizonte. Para a comparação, os custos foram contabilizados na moeda americana e, no caso brasileiro, levou em conta câmbio com dólar a R$ 1,80.
Dentro do universo de 14 países (ver quadro ao lado), a China lidera o ranking de menor custo não só para a atividade industrial como no levantamento geral, que inclui outros setores. Além da indústria de transformação, o estudo avaliou os custos de negócio nos segmentos de pesquisa e desenvolvimento, Tecnologia da Informação (TI) e serviços. Os chineses vem seguidos da Índia, México e Rússia. O Brasil vem em quinto lugar tanto na classificação da indústria quanto no ranking geral.
A pesquisa toma como referência os Estados Unidos, país considerado como base 100. Nessa comparação, o custo dos negócios no Brasil é 7% menor do que o americano. Os chineses e indianos têm vantagem semelhante entre eles, com um custo cerca de 25% menor do que o dos Estados Unidos. A vantagem do México é de 21%.
Em relação à China e à Índia, o Brasil tem maior custo nos principais itens levantados para a comparação da indústria de transformação – mão de obra, locação de instalações, transporte, energia e alíquota efetiva da tributação sobre lucro. Segundo a pesquisa, o custo de mão de obra da indústria de manufaturados- que soma salários, direitos trabalhistas e benefícios usualmente concedidos pelas empresas – no Brasil é o dobro da do México e mais que duas vezes e meia o custo chinês. O dispêndio com mão de obra na Índia é quase um quarto do brasileiro.
O custo da indústria de transformação com os empregados no Brasil, porém, é entre 30% a 35% menor do que o mesmo item na Alemanha ou Estados Unidos. A mão de obra não é o único dispêndio no qual o Brasil ainda é mais competitivo que os países mais desenvolvidos. O custo de transportes, segundo a pesquisa, também é mais baixo que o dos americanos e quase empata com o dos alemães.
O problema, destaca Roberto Haddad, sócio de internacional e de fusões e aquisições da KPMG, é que o custo dos negócios no Brasil é muito alto quando a comparação se restringe a outros países emergentes com os quais há disputa por investimentos estrangeiros. “Ao mesmo tempo, a pesquisa mostra também que o Brasil tem outros dispêndios mais altos do que o das economias mais maduras”, diz. “A carga tributária é sem dúvida um fator que tira a competitividade, mas não é só isso”, diz.
A alíquota efetiva sobre lucro no Brasil para a indústria de transformação é a maior entre o 14 países pesquisados. Essa carga no Brasil é de 34,1%. A Itália vem em seguida, com 33,8%. Segundo o levantamento, a Índia também tem alta tributação sobre lucro, com alíquota efetiva de 28,5%. Os alemães vêm depois, com 28,4%, e a tributação chinesa é bem menor – 14,3%.
“O problema da carga tributária no Brasil não é somente o total do recolhimento feito, mas também o custo gerado pela falta da contrapartida em termos de serviços públicos”, diz Haddad. “A carga de tributos é alta, e não há retorno em serviços como saúde e educação, outros fatores que também afetam a competitividade.”
Na locação de instalações para a produção de manufaturados, o Brasil é o terceiro país mais caro na amostra dos 14 países, perdendo somente para o Japão e a Rússia. Outro item caro no Brasil é a energia. A eletricidade brasileira é a segunda mais cara entre os locais comparados no estudo, perdendo somente pra a Austrália. A energia elétrica brasileira é 150% mais cara que a da China, da Índia e até da de países europeus, como Alemanha.
Com informações do Valor Econômico