Brasil volta despertar interesse de gestores
O País só perde hoje para a China no mundo na intenção de investimento de fundos de participação
As empresas brasileiras entraram na mira dos investidores estrangeiros. O Brasil só perde hoje para a China no mundo na intenção de investimento de fundos de participação (ou private equity) globais. Estimativas indicam que há em torno de US$ 11 bilhões de recursos já captados e disponíveis para aplicar em companhias locais.
A crise praticamente parou a criação de novos fundos na Europa e Estados Unidos. Com o cenário de maior incerteza, ninguém se arrisca a colocar capital nessas carteiras. Mas os fundos que já levantaram recursos no passado estão dispostos a investir. O Brasil, com as perspectivas de crescimento, um cenário de estabilidade política e econômica nos últimos anos, marco regulatório adequado e algumas companhias com preços atrativos, entrou no radar dos grandes investidores internacionais.
Pesquisa da Empea, associação com sede em Washington que reúne os 300 maiores gestores do mundo dedicados a mercados emergentes, revela que 17% dos investidores que já aplicam aqui pretendem aumentar os investimentos nos próximos três anos. Outros 11% dizem que vão investir no país pela primeira vez.
O Brasil também é o único país entre os emergentes onde os prêmios de risco para os investimentos de private equity estão em queda. Em todos os outros mercados, incluindo Índia e China, os prêmios estão em alta.
No Brasil, o prêmio caiu de 6,9% no ano passado para 6,4% agora. Na China, por exemplo, teve pequena alta de 6,3% para 6,4%; na Rússia, subiu de 6,9% para 8,4%. A pesquisa da Empea foi feita em janeiro e fevereiro e ouviu 156 investidores institucionais pelo mundo.
“O Brasil está em posição muito forte globalmente. O preço dos ativos está em queda e há muitas oportunidades de investimento”, disse ao Valor Roger Leeds, chairman da Empea. Os private equities, diz ele, serão uma fonte de capital de longo prazo, já que os bancos locais pararam de emprestar para as empresas.
Outra vantagem do Brasil é que não houve no mercado brasileiro operações alavancadas, como ocorreu nos Estados Unidos, destaca Luiz Eugênio Figueiredo, presidente da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (ABVCap) e diretor da Rio Bravo Investimentos.
Nesses negócios, por meio de crédito bancário, os fundos conseguiam fazer aquisições muito maiores. Nos Estados Unidos, a alavancagem chegou a representar 80% da operação e foram registradas milhares delas. No Brasil, foram algumas poucas, com no máximo 50%.
Novos fundos estão tentando levantar atualmente US$ 6 bilhões. Mas poucos acreditam que será possível captar essa quantia neste momento. O professor Cláudio Furtado, diretor do GVCepe, o centro de estudos de private equity da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acha que no máximo US$ 3 bilhões devem ser captados em 2009, número expressivo, mas abaixo dos US$ 4,5 bilhões levantados em 2008.
“A economia brasileira está em um “momentum” muito bom”, afirma Furtado. Há setores, como o de alimentos, educação e saúde que são quase imunes à crise, diz ele. Furtado cita ainda o setor de serviços, principalmente financeiros, como seguros, com boas perspectivas de expansão, além dos segmentos ligados ao mercado interno. “A atividade do private equity vai arrefecer, mas não perder o dinamismo.”
Em tempos de crise, os gestores dos fundos querem participar mais do dia a dia da empresa, avalia Ariel Muslera, diretor da Lavca, associação que reúne os fundos de venture capital da América Latina, com sede em Nova York. Quando havia muito dinheiro disponível, os fundos colocavam o aporte na empresa e iam procurar outros negócios. Agora, querem interferir mais nas operações e na gestão.
Pesquisa da Lavca que consultou gestores europeus e americanos mostra que cerca de 50% deles disseram estar dispostos a aumentar os investimentos na América Latina nos próximos três anos.
O Brasil é o primeiro mercado citado (30%), seguido por México (19%), Colômbia (18%) e Peru (16%). Os executivos participaram ontem do congresso da ABVCap 2009, que termina hoje em São Paulo.
Do Valor Econômico