Câmara dos Deputados pauta a votação da terceirização geral
(Foto: Adonis Guerra)
O projeto que libera a terceirização geral em todas as atividades de uma empresa entra hoje na pauta do plenário da Câmara dos Deputados, que ressuscitou o Projeto de Lei 4302/1998, proposto na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, e já aprovado no Senado.
Caso seja aprovado na Câmara, onde tramita em regime de urgência, o texto dependerá apenas de sanção presidencial e não passará por análise da atual composição do Senado nem de consulta popular. A última tramitação do projeto foi em 2002, quando 12 dos 81 senadores atuais tinham mandato.
O secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, explicou que a proposta da terceirização sem limites tem como objetivo principal enfraquecer a capacidade de luta das organizações sindicais por meio da fragmentação de suas bases.
“Na prática, o golpista Temer e seus aliados querem desmanchar todo o sistema de proteção social e acabar com movimento sindical”, alertou.
O dirigente relembrou a reunião das centrais sindicais com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, no dia 6, para evitar a votação da terceirização no dia seguinte.
(Foto: Adonis Guerra)
“Dissemos para ele que poderia entrar para a história como quem colocou fim a 70 anos de conquista da classe trabalhadora. E a resposta dele foi que conhecia a posição da CUT, respeitava, mas não concordava e iria votar na terça”, contou.
“Ou colocamos muitos trabalhadores na porta do Congresso ou veremos esses parlamentares rasgarem de vez a CLT”, convocou.
O Projeto de Lei regulamenta o trabalho temporário, com o aumento de três para seis meses do tempo máximo de sua duração, e o transforma em padrão rebaixado de contratação, com direitos reduzidos.
PRECARIZAÇÃO
A CUT e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, o Dieese, lançaram em fevereiro o estudo “Terceirização e Desenvolvimento, uma conta que não fecha”.
De acordo com o documento, os terceirizados ganham 25% menos, trabalham quatro horas a mais e ficam 2,7 anos a menos no emprego quando comparados aos trabalhadores contratados diretos.
A terceirização também favorece situações análogas à escravidão. De acordo com o estudo, entre 2010 e 2013, entre os dez maiores resgates de trabalhadores escravizados, nove eram terceirizados. De 2005 a 2012, dos 99 acidentes fatais, 85 envolviam trabalhadores terceirizados.
TENTATIVAS
O PL 4330, atual PLC 30, que também libera a terceirização e é mais recente, de 2015, já foi aprovado na Câmara e tramita no Senado. O PL 4302 é menos rigoroso para os patrões, já que há menos exigências sobre o cumprimento das obrigações trabalhistas e previdenciárias da empresa que contrata trabalho terceirizado.
O empresariado levou ao Superior Tribunal Federal, o STF, o julgamento de um caso de terceirização no setor de celulose e papel. Se aprovado, o Projeto de Lei derruba a Súmula 331, do Tribunal Superior do Trabalho, o TST, que proíbe a terceirização na atividade-fim e é a única salvaguarda legal dos trabalhadores atualmente.
“Isto significa institucionalizar a precarização do trabalho como padrão de contratação e aprofundar ainda mais todos os problemas dela decorrentes (redução dos postos de trabalho; intensificação do trabalho; incremento dos acidentes e doenças; rebaixamento dos direitos; fragmentação da organização sindical etc.)”, diz o estudo do Dieese.
Da Redação