Caminho de volta

Não são mais os moradores do Nordeste que vêm ao Sul e Sudeste. Agora, é o pessoal do Sul e Sudeste que vai para outras regiões onde o crescimento econômico é maior, à procura de oportunidades.

Muda a direção da migração

Não são mais os moradores do Nordeste que vem ao Sul e Sudeste em busca de melhores condições de vida, como aconteceu durante quase todo o século passado. Desde a metade dos anos 1990, a situação se inverteu. Agora, é o pessoal do Sul e Sudeste que vai para o Nordeste à procura de oportunidades.

É o que mostra estudo do economista Marcio Pochmann, que analisou o comportamento da indústria e do mercado de trabalho no País entre 1990 e 2005. Segundo ele, São Paulo, que chegou a receber 340 mil pessoas vindas de outros Estados entre 1995 e 2000,  viu sair 105 mil migrantes entre 1999 e 2004. Rio de Janeiro, que registrou a entrada de 45 mil pessoas de 1995 a 2000, foi deixado por 77 mil pessoas de 1999 a 2004.

De acordo com Pochmann, esta mudança ocorre porque o Sul e Sudeste atravessam um período de estagnação econômica, ao contrário do Norte, Nordeste e Centro-Oeste que se desenvolveram mais nos 15 anos pesquisados.

Assim, enquanto São Paulo teve alta de 1,7% na geração de empregos e o Rio 0,85%, as vagas no Pará cresceram 5,4% e em Mato Grosso 4,3%.

O resultado é que o Centro-Oeste recebeu 465 mil migrantes de 1995 a 2004, principalmente devido as atividades agropecuárias e da agroindústria, e a Bahia atraiu 352 mil pessoas para trabalhar em comércio e serviços no mesmo período.

Indústria do NE supera a do Sul

Dados do IBGE sobre indústrias brasileiras em 2006 confirmam o estudo de Pochmann.

De acordo com o instituto, no ano passado o Norte e o Nordestes cresceram acima da média nacional enquanto o Sul e Sudeste amargaram desempenhos abaixo da média.

No Nordeste cresceram os segmentos siderúrgico, metalúrgico e de celulose, além de atividades vinculadas à produção de minerais não metálicos voltadas para construção civil, ao extrativismo vegetal, refino de petróleo e produção de álcool.

Por isso, enquanto a média de crescimento da indústria no País em 2006 foi de 2,8%, o Nordeste como um todo chegou a 3,3%. Alguns locais bateram recordes, como o Ceará com alta de 8,2%, Pernambuco com 4,8% e a Bahia com 3,2%.

Prejudicados pela crise agrícola e o dólar barato, Sul e Sudeste mal cresceram 1%. O Rio Grande do Sul, por exemplo, registrou em 2006 a segunda queda anual seguida na produção, acumulando 6% de recuo e Santa Catarina cresceu apenas 0,2%.

Consumo também cresce

O crescimento da renda no NE tem a ver com os programas sociais do governo federal. Basta dizer que 59% dos beneficiados pelo Bolsa-Família são da região.

Por isto, enquanto as vendas no comércio cresceram 6% no Brasil, os índices nordestinos são bem mais altos, como os 18% de Alagoas.

Esse crescimento está atraindo investimentos antes reservados apenas ao Sul e Sudeste. O Wal Mart, por exemplo, colocou R$ 200 milhões na região e abriu lá sete de suas 14 novas lojas no Brasil em 2006. E já anunciou mais R$ 300 milhões para este ano.