Caminhões rodam perto de 20 anos no Brasil

Com uma idade média de 19 anos, a frota de veículos de cargas no Brasil é uma das mais velhas em circulação no mundo. O número é puxado, sobretudo, pelos caminhões dos transportadores que trabalham por conta própria, que representam 50% dos cerca de 1,8 milhão em circulação no país.

Há casos de veículos com mais de 30 anos de uso. Nos Estados Unidos e em países da Europa, a média não ultrapassa nove anos. Para o presidente da Associação Nacional de Transporte de Carga e Logística (NTC&Logística), Flávio Benatti, falta uma política pública nacional que condicione o financiamento de novas carretas ao sucateamento das antigas, para induzir a troca pelo caminhoneiro. “Não adianta apenas dar o financiamento, é um assunto de política industrial. Já tivemos conversas no MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) nesse sentido”, afirma.

De acordo com a NTC&Logística, seria necessário renovar no mínimo 50 mil veículos por ano para atingir, dentro de 15 anos, uma realidade melhor da qualidade da frota nacional.

Quanto mais velho, mais poluente e menos confiável é o automóvel, além de as chances de acidentes serem maiores. Soma-se a isso o alto custo que um veículo em mau estado acarreta para quem contrata o serviço. “A renovação não é importante apenas para o transporte rodoviário, é importante para o Brasil.

Cerca de 37 mil pessoas morrem por ano em acidentes de automóvel e uma parcela substancial da responsabilidade dessas mortes é pelo envelhecimento da frota”, afirma o diretor-presidente da Braspress, Urubatan Helou. A empresa de encomendas conta com 1.150 caminhões com idade média de dois anos e meio.

A partir de 2012 o Brasil passa a adotar os parâmetros do Euro V (norma mais rígida de emissão de poluentes por veículos automotores), o que Benatti vê como uma “gota o oceano” diante da falta de uma estratégia pública eficiente para retirar de circulação os caminhões velhos.

Apesar de no Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT) o governo pretender reduzir a fatia do modal rodoviário de atuais 58% para 30% da matriz de transporte até 2025, o caminhão é o único meio que consegue chegar na porta do cliente. “Nunca vai deixar de ser uma opção”, afirma Benatti.

O setor de logística se reúne hoje e amanhã em São Paulo para debater os desafios do transporte e a relação com o ambiente, na primeira edição do Eco Transporte & Logística – Expo&Conference. Um dos convidados, o advogado ambiental Marcos Gallão destaca que o setor de transportes está se conscientizando dos riscos ao meio ambiente, principalmente em razão das penalidades decorrentes de acidentes. Além das multas, que variam de R$ 5 mil a R$ 50 milhões, há as implicações criminais. “Temos a política nacional do meio ambiente e a lei de crimes ambientais. As duas vêm sendo aplicadas juntamente com os regulamentos específicos para o transporte”. Em relação ao setor rodoviário, explica, os riscos de acidentes são maiores porque as condições das estradas nacionais são, em geral, precárias. “Só de produtos perigosos, a Cetesb vem enquadrando numa faixa de 200 acidentes por ano no Estado de São Paulo. Isso é uma quantidade ínfima porque abrange os casos em que o órgão é notificado”, afirma o especialista.

O evento é uma realização da NTC&Logística em parceria com a REED Exhibitions Alcântara Machado, que promoveu evento semelhante na França recentemente. Para o presidente da empresa, Juan Pablo, as crescentes regulamentações para o controle de emissões de poluentes induzem ao diálogo.

Do Valor Econômico