Campanha salarial: Os primeiros acordos coletivos unificados em uma década

Pela primeira vez a categoria conquistou os mesmos índices de reajuste salarial e de aumento real. A campanha foi marcada também por avanços sociais

Com a assinatura da convenção coletiva com o Grupo 10, na última sexta-feira, os metalúrgicos de todo o estado de São Paulo encerraram a campanha salarial 2009 com um feito especial: foi a primeira vez nesta década que a categoria conquista os mesmos índices de reajuste salarial, de aumento real e acordos coletivos em todos os setores.

“Foi a melhor campanha de todos os anos”, analisa Sérgio Nobre, presidente do Sindicato. Ele destaca também a mobilização. “Fizemos três grandes assembleias com companheiros e companheiras de todos os setores em cada um delas, lotando a rua do Sindicato, como há muito tempo não se via”, recorda.

Conjuntura

Segundo o presidente do Sindicato, a estratégia de não admitir a diferenciação entre setores traçada pela Federação Estadual dos Metalúrgicos (FEM) da CUT, e confirmada pelas assembleias, foi das mais acertadas.

“Em dadas situações, a conjuntura nos empurra a criar categorias dentro da categoria”, admite Sergio, para explicar que em alguns anos as condições de negociação e conquistas são melhores em alguns grupos e ruins em outros.

Este ano, por exemplo, a crise econômica mundial afetou as indústrias de forma diferenciada, o que poderia repercutir nos acordos.

Outro dado que confirma a avaliação positiva da campanha, é que os metalúrgicos foram os primeiros a entrar em luta num cenário de incerteza sobre o desfecho da crise. “Conseguimos apontar o caminho para outros trabalhadores, inclusive para metalúrgicos de outras regiões que obtiveram reajustes maiores e conseguiram reduzir as diferenças salariais históricas em relação ao ABC”, conclui.

O presidente do Sindicato relembra a importante participação da categoria em acordos tripartites, como a redução do IPI, que garantiu o emprego de milhares de trabalhadores nas montadoras.

Dia de formação é destaque

A campanha foi marcada também por avanços sociais. Um dos mais importantes é o que garante ao trabalhador um dia por ano para participar de um programa de formação cidadã no Sindicato.

“Essa é uma novidade para o movimento sindical brasileiro, comparável a poucas experiências no mundo”, afirma Sérgio.

Pela cláusula, sindicato e empresas vão discutir como será a liberação do trabalhador, que terá o dia pago. “Já estamos negociando com algumas fábricas e, em fevereiro do ano que vem, pretendemos inaugurar o programa com a primeira turma.

O objetivo é mostrar ao metalúrgico as várias faces de uma campanha salarial, o que trazem os acordos coletivos e como a estrutura sindical condiciona as relações de trabalho no Brasil.

Outra conquista que vale ressaltar é volta da estabilidade no emprego até a aposentadoria para os trabalhadores portadores de doença profissional. A categoria metalúrgica cutista conquistou este direito em 1985, que permaneceu na CCT do G3 até 2001. A partir daquele ano, houve impasse entre o G3 e a FEM e este direito passou a ser assegurado aos trabalhadores por medida judicial. “Para nós convencionar esta importante cláusula social na CCT significa uma grande vitória da categoria metalúrgica cutista. Além desta bancada, já temos assegurado este direito nas Convenções com as Montadoras, Fundição e nos Grupos 2 e 8”, explica Valmir Marques, o Biro Biro, presidente da FEM-CUTSP.

Da Redação