Carnaval: Longe do povo, perto das celebridades

A Rede Globo pagou R$ 10 milhões pela transmissão exclusiva do carnaval carioca. Por isso somem figuras tradicionais como Paulinho da Viola, Nélson Sargento e Jamelão. Entram estranhos como Deborah Secco, Juliana Paes, Taís Araújo, Wanessa Camargo e outras celebridades. A verdadeira folia de Momo acontecerá longe do Sambódromo.

A maior festa popular do País tornou-se um grande negócio. Tudo virou mercadoria, desde a venda de fantasias até a cobrança de ingressos para assistir ensaios. O preço médio das fantasias foi de R$ 250,00 a R$ 750,00. O negócio movimenta quase R$ 30 milhões por ano.

Em 2003, a venda de ingressos rendeu R$ 22 milhões, a comercialização de espaços publicitários no Sambódromo R$ 2 milhões e CDs com sambas enredo R$ 2,2 milhões.

O autêntico carnaval do Rio acontece de forma espontânea e magnífica com 60 blocos de rua e bandas de bairro que saem por teimosia dos foliões e reúnem milhares de pessoas.

>> São Paulo tem publicidade cara

Em São Paulo, a Globo pagou menos pela transmissão, R$ 3 milhões, mas as cotas de publicidade aqui custam o dobro que no Rio (R$ 3 milhões contra R$ 1,5 milhão). É que o carnaval paulistano está crescendo e dando a cada ano mais lucro. Nos últimos quatro anos, bateu o carioca em audiência.

Por isto o capital privado aumenta o marketing. A Kaiser, por exemplo, montou um camarote em 2003 e lotou de gente famosa que nada tinha com a folia. Pagou R$ 10,9 milhões à Globo.

Longe das câmeras de televisão, o carnaval de rua resiste na capital paulistana. A União das Escolas de Samba tem 65 filiadas entre blocos e escolas de samba fora do desfile oficial. Mais de 1 milhão de pessoas participa do carnaval nos bairros e a cada ano o público cresce mais.

>> Crise no carnaval baiano

O carnaval da Bahia vive uma crise. Os foliões caíram de 350 mil há seis anos para 185 mil em 2003. Em quatro anos, as entidades carnavalescas diminuíram de 214 para 170.

A responsabilidade é atribuída aos trios elétricos que teriam se apegado a um modelo de êxito fácil que se desgastou com o tempo. A decadência da axé music seria outro motivo.

Do ponto de vista comercial, 50% dos anunciantes (R$ 15 milhões) foram para os camarotes.

No outro extremo estão os trios independentes, que ganham espaço a cada temporada.

Há cinco anos eram tidos como em extinção, hoje são mais de 20. São grupos como o Instituto Cultural Beneficente Steve Biko que defendeu o fim do racismo e da exclusão social ou o tradicional bloco Mudança do Garcia – boicotado pelas emissoras de tv – que condenou a invasão do Iraque.