Carros brasileiros serão testados em laboratório

Primeiro centro para teste de colisão de veículos não está ligado às montadoras

O Brasil vai ter seu primeiro centro para testes de colisão de veículos independente das montadoras. O laboratório será construído nas dependências do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), em Duque de Caxias (RJ). Antes de serem homologados, automóveis vendidos no País terão de passar pelos chamados “crash test” para verificação de níveis de segurança. Também serão realizados exames de emissões de poluentes.

Para o início das operações, serão necessários aportes de cerca de R$ 100 milhões. O governo vai assumir os custos, que devem entrar no Orçamento da União em 2014, mas não descarta a participação da iniciativa privada.

A previsão é de que os testes no centro comecem até 2017, ano em que os novos carros passam a cumprir as normas do programa Inovar-Auto. Entre elas está a redução mínima de 12% nas emissões de poluentes em relação aos níveis atuais. O não cumprimento levará o fabricante a recolher 30 pontos extras de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de seu produto.

“Queremos colocar a indústria automobilística brasileira na rota da competitividade internacional”, diz Otávio Camargo, diretor da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que vai coordenar a criação do Centro de Tecnologia Automotiva Inmetro.

A confirmação do laboratório ocorre algumas semanas após a publicação, pela agência internacional Associated Press, de longa reportagem que chamava os carros brasileiros de “mortais”. O texto relaciona a falta de segurança dos veículos nacionais ao número de acidentes de trânsito no País, um dos mais elevados do mundo.

O artigo tem como base resultados de testes de colisão de veículos produzidos ou vendidos no Brasil feitos pela Latin NCAP, entidade independente com unidades em diversos países. Questionado pelas montadoras brasileiras por usar critérios e modelos supostamente diferentes, os resultados dos testes – alguns feitos em 2010 – mostram que os carros brasileiros são menos seguros que os europeus.

As pontuações mais baixas do teste vão para modelos sem air bag e ABS, itens que passam a ser obrigatórios em todos os novos carros a partir de 2014. O artigo também cita má qualidade do material usado nos veículos nacionais, como o aço, e problemas na solda. Os testes foram feitos na Europa.

Local. O centro do Inmetro poderá fazer os testes localmente, usando critérios estabelecidos pela legislação brasileira, que deverá ser aperfeiçoada, segundo Camargo. Eles simulam acidentes com batidas em barreiras e permitem avaliar a deformação do carro, o funcionamento dos itens de segurança e o impacto nos ocupantes. São usados bonecos com sensores que imitam seres humanos.

O presidente do Inmetro, João Jornada, diz que o centro dará apoio a processos de melhoria nas áreas de segurança e emissões veiculares, desenvolvimento de tecnologias locais tanto de veículos quanto de autopeças.

Atualmente, só a Volkswagen e a General Motors têm laboratórios de “crash test” no Brasil. As demais empresas usam os centros de suas matrizes na Europa, Estados Unidos e Japão. Os resultados são enviados para os órgãos competentes, que homologam os veículos para venda.

“O centro pode se tornar um polo tecnológico de alta competência e esperamos que, no futuro, se torne uma espécie de Embrapa do setor automotivo”, afirma o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan. “Não falamos ainda de recursos financeiros, mas o projeto tem nosso apoio.”

A participação financeira do setor depende de decisão de cada fabricante. Moan diz que as montadoras poderão usar o laboratório para seus testes de simulação, em vez de enviar os veículos para o exterior, o que reduzirá custos. Ele também espera que o centro possa colaborar no desenvolvimento de novas tecnologias e novas matérias-primas.

O modelo de testes que será adotado pelo Inmetro está em estudo e centros de vários países foram visitados. “Temos prazo até abril para definir isso e apresentar o projeto”, informa Camargo. “Incluir o centro no programa Inovar-Auto foi uma decisão pessoal da presidente Dilma Rousseff”, diz.

Independentemente das regulamentações do governo, outra força é a demanda do mercado, afirma Jornada. “É preciso haver conscientização por parte dos consumidores.” Ele lembra, por exemplo, que na Europa não há obrigatoriedade de airbags, mas dificilmente o consumidor compra um veículo sem esse item de segurança.

De O Estado de S.Paulo via Clipping do Ministério do Planejamento