Carta do leitor – Contra manobras em nome da igreja católica

Ao aproximar o segundo turno…  Dom Nelson, venho expressar meu descontentamento ou melhor, meu repúdio à sua atitude tomada em conjunto com mais dois bispos (desnecessário citar quem são) que em nome da Igreja de Jesus Cristo utilizaram-se de manobras manipuladoras para apoiar candidatos que favorecem seus interesses elitistas e particulares em detrimento dos interesses do povo.

A aberta declaração de pedido de voto no sr. Serra foi o máximo da arrogância das atitudes totalitaristas e interesseiras que vocês tem tomado como prática no ministério que receberam para pastorear o povo que, de fato, é de Deus. A igreja católica, e sou católica é bom que saiba, há muito deixou de ser o feudo que vocês tanto desejam, graças a Deus.

O sistema de susserania não funciona mais porque os campesinos conquistaram o direito de ler, escrever, expressar-se e obter conhecimento suficiente para adquirirem sua autonomia e poder decidir por si próprios no que acreditam ser o melhor para suas vidas.

Induzir o povo se utilizando de uma pregação religiosa, e se dizendo ser em nome de deus, é pecado grave (deus em minúsculo, porque creio que esse deus expresso na mensagem de vocês não é o mesmo Deus da Bíblia que acredito).

Os senhores que dizem representar a Instituição religiosa parece-me que desta vez, e tomara que seja a única, tomaram decisões que contrariam as definidas pela CNBB: a não intervenção dos bispos na escolha de candidatos. Ou vocês não estão afinados com o organismo que dizem representar?

Não se esqueça, senhor bispo, que segundo nossa Constituição Magna, nossa Nação é um país laico, portanto a igreja não tem o direito de interferir nas opiniões e decisões que cabem a sociedade civil. O direito a cidadania é uma conquista do povo e não queira agora destituir o povo desse direito de livre escolha.

Seria viável e até ético que vocês enviassem às comunidades uma nova circular se desculpando pelo abuso de poder. Sou cristã e sou católica, tenho carta de alforria garantida por lei desde 1888 e direito à cidadania garantida por todo o processo democrático pelo qual vem passando esta Nação chamada Brasil.

Sou brasileira e indignada pela postura autoritária e partidária daqueles que estão na Instituição religiosa a qual por escolha livre e espontânea eu me decidi pertencer. Penso que assim como vocês tiveram a liberdade de expressarem suas opiniões eu também me sinto com total liberdade para dizer-lhes o que penso a respeito do documento enviado por vocês às comunidades católicas. Afinal, espero que na igreja, assim como na política, ou nos debates políticos onde presenciamos um exercício de democracia, tenhamos o direito de resposta. Que assim seja.

 

Valdelice Conceição dos Santos

Professora de História e mestre em Ciências da Religião

Ribeirão Pires, 8 de outubro de 2010.