Células-tronco: Cientista defende pesquisa com embriões
A geneticista Mayana Zatz, da USP, afirma que proibir pesquisas com embriões é acabar com a esperança de cura de milhares de doenças. Para ela, o debate sobre o tema ganhou contornos religiosos quando deveria ser apenas científico.
“Célula-tronco não é vida humana”
O Supremo Tribunal
Federal vai definir o futuro
das pesquisas com célulastronco
ao analisar ação de
inconstitucionalidade da Lei
de Biossegurança.
Aqui no Brasil, o debate
ganhou contornos religiosos,
de se saber quando começa a
vida humana. Para boa parte
dos cientistas o debate não é
esse, pois o que se propõe é o
uso dos embriões já descartados
pelas clínicas por não
serem úteis na reprodução.
A célula-tronco embrionária
é extraída do embrião
e ela tem a capacidade de se
transformar em outros tecidos
do corpo como ossos, nervos
e músculos.
O embrião é o fruto da
junção de um óvulo e um
espermatozóide a partir das
primeiras modificações do
ovo fecundado.
A professora Mayana
Zatz, geneticista da USP, disse que o debate deve ter caráter
científico. Ela, que é coordenadora
do Centro de Estudos
do Genoma Humano
da USP, afirma que a pesquisa
com célula-tronco embrionária
é a única chance de
cura das doenças degenerativas.
Leia entrevista abaixo:
O que representam as pesquisas com células-tronco?
As pesquisas com células-tronco representam hoje
a esperança de cura para pessoas
que têm doenças genéticas
como distrofia muscular,
diabetes, câncer, problemas
cardíacos e para quem sofreu
acidentes graves perdendo a
mobilidade devido a lesões na
medula espinhal.
Existem mais de 7.000
doenças genéticas e degenerativas,
que atingem mais de
cinco milhões de crianças no
Brasil.
A célula-tronco é vida?
A célula pode ser viva,
mas não é uma vida humana.
Um coração a ser transplantado
é vivo, mas não é um
ser humano. Defendemos
que um embrião congelado
possa doar suas células, da
mesma maneira que um indivíduo
em morte cerebral
doa seus órgãos.
Qual o papel das pesquisas?
As pesquisas com células-tronco podem resultar
num aprimoramento das técnicas
de transplante. Hoje
estamos pensando só em
transplantar tecidos, mas no
futuro acredito que poderemos
inclusive fabricar órgãos. Seria
possível regenerar o fígado de
uma pessoa que sofreu uma lesão
por hepatite, por exemplo.
Imagine alguém que ficou
com paralisia por um tiro
ou acidente de carro poder
voltar a andar depois da regeneração
da medula através do
transplante de células-tronco!
O que diz a lei?
A Lei de Biossegurança
permite a utilização de embriões
produzidos em laboratórios
para fins de reprodução
assistida. As pesquisas foram
permitidas com embriões
de até 14 dias, porque até aí
ele não desenvolveu nenhum
resquício de sistema nervoso.
A lei autoriza apenas o
uso daqueles inviáveis para
gestação ou congelados há
mais de três anos, cuja probabilidade
de gerar um ser
humano é praticamente zero.
E a possibilidade de
proibição das pesquisas?
Proibir a pesquisa com
células-tronco embrionárias é
continuar dando aos embriões
excedentes nas clínicas de fertilização
um destino inglório,
que é o lixo. De outro
lado, tira a esperança de cura,
condenando à morte milhares
de pessoas.
O que é mais eticamente
correto? Preservar um embrião
congelado, mesmo sabendo
que a probabilidade de ele
gerar um ser humano é praticamente
zero, ou doá-lo para
pesquisas que poderão resultar
em futuros tratamentos?
Que fim mais digno pode
ter um embrião condenado à
destruição do que participar de
pesquisas que podem salvar
milhões de pessoas?