Centenário Paulo Freire: “Ninguém como ele conseguiu transformar este nosso caldo cultural em uma educação transformadora”
Sindicato homenageia educador brasileiro reconhecido mundialmente
Há cem anos, em 19 de setembro de 1921, nascia em Recife (PE), o menino que aprendeu a ler embaixo de uma mangueira, e que mudaria radicalmente a forma como se entendia a educação. Entre tantas das suas frases célebres, afirmava o autor de Pedagogia do oprimido, Paulo Freire: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”.
Para celebrar o centenário do educador, o Consórcio Intermunicipal Grande ABC, em conjunto com os Metalúrgicos e Químicos do ABC, prefeituras e universidades, preparou uma série de atividades com objetivo de debater aspectos fundantes da obra de Paulo Freire sempre em diálogo com os desafios do tempo presente. As atividades são transmitidas pelo YouTube do Consórcio.
Nas palavras do presidente do Sindicato, Wagner Santana, o Wagnão, os Metalúrgicos do ABC prestam sua homenagem ao homem que soube, como ninguém, reconhecer as sabedorias do povo mais humilde e não letrado.
“São raros os brasileiros que conseguem compreender a brasilidade. Mais raros ainda aqueles que conseguem explicar e tentar nos fazer compreender, às vezes inutilmente, o que é esse imenso Brasil e o povo que nele habita. Nossas contradições, nossos medos e esperanças. Nossas raças e nossas misturas, nossas empatias e nossas indiferenças. Nossas glosas, prosas e crenças.
Entre estes brasileiros cito Patativa do Assaré, Jorge Amado, Mário Quintana, Clarice Lispector, Ariano Suassuna, Nísia Floresta entre outros que nos ajudam a nos compreender como povo, este Leviatã tupiniquim que só Macunaíma explica.
Mas quem transforma este mexido em algo cientificamente justificável é, sem dúvida, Paulo Freire. Ninguém como ele conseguiu transformar este nosso caldo cultural em uma educação transformadora. Que se apropria tanto dos grandes autores e coloca o povo humilde não letrado na mesma condição de sabedoria e com a mesma capacidade de contribuição para a construção de uma sociedade plural, solidária e, acima de tudo, igualitária.
É ele quem faz com que cada um de nós sejamos importantes, pois cada um tem algo de muito importante para contribuir com a transformação do outro. Este é Paulo Freire”.
Vida e obra
Paulo Freire teve sua primeira experiência com educação de adultos ao trabalhar com operários no setor de educação do Sesi, em 1947. Para a elite conservadora, Paulo Freire, com seu “método” dialógico e crítico, representava uma ameaça ao mandonismo local frente à possibilidade de inserção de grande número de camponeses ao universo dos eleitores. Sua teoria do conhecimento voltada para a alfabetização de adultos foi rapidamente difundida dentro e fora do Brasil.
Acusado de subverter a ordem instituída, foi preso após o golpe militar de 1964. Depois de 72 dias de reclusão, foi convencido a deixar o país. Exilado no Chile, escreveu a sua principal obra: “Pedagogia do Oprimido”. Em 1969, trabalhou como professor nos EUA a convite da Universidade de Harvard. Retornou ao Brasil em 1980 e lecionou na UNICAMP e na PUC-SP. Em 1989, tornou-se Secretário de Educação no município de São Paulo.
É autor de muitas obras, entre elas: Educação: prática da liberdade (1967), Pedagogia do oprimido (1968), Cartas à Guiné-Bissau (1975), Pedagogia da esperança (1992) e À sombra desta mangueira (1995).
Foi reconhecido mundialmente pela sua prática educativa. Além de ter seu nome adotado por muitas instituições, é cidadão honorário de várias cidades no Brasil e no exterior. Paulo Freire foi outorgado com o título de doutor Honoris Causa por vinte e sete universidades.
Em abril de 1997, lançou seu último livro, Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. Faleceu no dia 2 de maio de 1997 em São Paulo, vítima de um infarto agudo do miocárdio.
Colaborou o Departamento de Formação do Sindicato
Programação
Círculos Virtuais de Cultura
22/09 – 17h:
Paulo Freire e a Pedagogia das Ausências
Profª Nilma Lino Gomes (UFMG).
Hip Hop (Batalhas de rima com a coordenação de Nelson Triunfo)
14/10 – 18h30:
Boniteza, sonho e realidade em Paulo Freire
Prof. Dr. Carlos Rodrigues Brandão (Unicamp)
Coral do Programa Mulheres em Movimento da Secretaria de Esportes de Diadema
18/11 – 19h:
Anúncio, denúncia e inédito viável na pedagogia libertadora de Paulo
Frei Betto (Escritor)
Pedro Pontual (Presidente honorário do Conselho de Educação Popular da América Latina (CEAAL)
Leitura dramática do Teatro do Oprimido
Paulo Freire, nosso grande educador
Uma vez me pediram que eu falasse
Em meus versos de um grande educador,
O maior do Brasil, um bom senhor,
Defensor dos irmãos da baixa classe.
Um sorriso brotou na minha face,
E o meu corpo de alegre estremeceu,
Pois no mesmo momento me ocorreu
Paulo Freire, que é nome conhecido,
Pesquisado, robusto e preferido,
E é mais um nordestino como eu.
O Nordeste nos deu grandes valores:
No teatro, no humor, na cantoria,
Na viola, no verso, na alegria,
E no mundo de cores e sabores.
Quando penso nos bons educadores
Meu caminho se torna mais aberto.
Penso em Paulo e me sinto mais liberto,
Minha estrela se torna mais brilhante,
Porque Paulo me foi muito importante,
Ideal nesse meu destino incerto.
(Trecho de poema de Moreira de Acopiara)