Chile lembra 41 anos de golpe que derrubou Allende e levou à ditadura de Pinochet
Explosões de bombas em Santiago alteraram plano de segurança para aniversário de golpe no Chile
País vive o 41º aniversário do golpe de Estado. Allende e Pinochet, os ícones da dicotomia surgida, ainda são presença constante na vida política do país, que parece viver um eterno 11 de setembro
Em meio à repercussão em torno da explosão de uma bomba no metrô de Santiago na última segunda-feira (8), classificada como “ato terrorista” pelo governo de Michelle Bachelet, o Chile relembra hoje (11) o 41º aniversário do golpe de Estado que derrubou o presidente Salvador Allende, em 1973.
Antes do atentado às torres do World Trade Center, em 2001, o dia 11 de setembro já havia passado por outro ataque aéreo histórico: o bombardeio do Palácio de La Moneda, que marcou o golpe de estado no Chile, em 1973, episódio conhecido mundialmente como um dos momentos mais importantes da Guerra Fria.
As bombas atiradas pelos aviões Hawker Hunter destruíram uma das primeiras experiências democráticas de socialismo do mundo, enquanto abriam o caminho para uma ditadura que impôs ao país o modelo econômico neoliberal, algo que também era inédito no planeta.
Deixaram um país e o mundo divididos entre o presidente deposto e o general golpista. Salvador Allende e Augusto Pinochet. Democracia e ditadura. Direitos sociais contra economia de mercado. Naquele dia, segundo a jornalista canadense Naomi Klein (autora do best-seller “A Doutrina do Choque”), o Chile se transformou num refrator da História, refletindo as batalhas ideológicas travadas desde o início da Guerra Fria e, ao mesmo tempo, projetando as que seriam travadas décadas mais tarde e ainda estavam vigentes.
Neste mês, o Chile viverá o 41º aniversário do golpe de estado. Allende e Pinochet, os ícones da dicotomia surgida naqueles anos, ainda são presença constante na vida política do país. Fazem parte de cada discurso, retaliação ou crítica. Estão presentes nos debates políticos, nas marchas dos movimentos sociais e definem boa parte dos votos durante as eleições, tanto os de esquerda e os de direita, em uma sociedade que parece viver um eterno 11 de setembro.
Atentados
A explosão de uma bomba no metrô de Santiago na última segunda-feira (8), que deixou 14 feridos, fez o governo da presidente Michelle Bachelet reforçar o esquema de segurança no aniversário de 41 anos do golpe de Estado no Chile. Cerca de 2.600 carabineiros (polícia militarizada) estarão hoje (11) nas ruas da capital chilena. Na noite de terça-feira (9), uma funcionária de limpeza sofreu danos auditivos e outras lesões causadas por uma nova explosão de bomba de fabricação caseira em um supermercado em Viña del Mar, no Chile.
Os ataques tiveram início no dia 14 de julho, quando uma bomba explodiu na estação terminal Los Dominicos, na mesma linha do metrô. Depois, foram registrados casos de mochilas encontradas com bombas, mas desativadas antes da explosão. Investigações da polícia após o atentado de julho revelaram que se tratou de um ato realizado por “grupos anarquistas insurrecionistas”. Após a ação, o governo aplicou a Lei Antiterrorista, que também foi acionada após a explosão de bombas que em alguns bairros de Santiago em agosto.
O subsecretario do Ministério do Interior, Mahmoud Aleuy, anunciou aumento de mais de mil policiais e a ativação de todas as tropas de Forças Especiais e brigadas comunais espalhados por 15 comunas da cidade. “Estaremos para garantir a segurança das pessoas, não para criar um clima de confronto, mas estaremos preparados para qualquer situação”, afirmou Aleuy.
As tropas adicionais estão espalhadas pelo centro da capital, próximas ao Palácio de La Moneda, e no Cemitério Geral, onde costumam acontecer os atos com maior público, além de comunas como San Miguel, Cerrillos, Puente Alto e Pedro Aguirre Cerda, consideradas críticas devido ao histórico de enfrentamento com a polícia e pela formação de barricadas.
A empresa Metro de Santiago preparou um operativo especial, que começou na mesma tarde do atentado, com a retirada das latas de lixo de algumas estações. Também foi planejada uma ação coordenada entre fiscais do metrô com a Polícia de Investigações (PDI, correspondente à polícia civil), que espalhou pessoal à paisana em pontos estratégicos.
O presidente do Metro de Santiago, Aldo González, garantiu que o Metrô estará preparado para eventualidades. O novo protocolo discutido com a presidenta Bachelet, no Conselho Emergencial de Segurança já funcionando desde ontem (10) e, segundo González, “os cidadãos pode usar o transporte público sem temor, porque estaremos preparados para atuar diante de qualquer coisa fora do normal”.
A presidente também deu declarações após a reunião do Conselho de Segurança, e disse que “este governo não permitirá que um grupo reduzido de terroristas covardes afete a vida da grande maioria das mulheres e homens que querem viver num Chile em paz. Vamos encontrá-los e aplicaremos a eles todo o peso da lei”.
Da Rede Brasil Atual