Ciência e tecnologia: Um olho no espaço, outro no cotidiano

Jóias da ciência brasileira, pontas de
diamante
sintético criado no laboratório do Inpe, em
São
José dos Campos (SP), têm tudo para revolucionar o
tratamento dentário. Como tantas outras
invenções
que nasceram das pesquisas espaciais e acabaram facilitando nosso
dia-a-dia

Por Cida de Oliveira
Fotos de Jailton Garcia


Broca de diamante desenvolvida pelo Inpe: ruído mais
discreto deixa o paciente menos tenso.

Tudo bem que a ida do brasileiro Marcos Pontes ao espaço
este
ano tenha suscitado de orgulho a revolta. Política, economia
e
estratégias à parte, o fato é que
poucos se
dão conta do quanto o cotidiano terrestre já
mudou
graças à tecnologia que começou
voltada à
exploração espacial. Nem é preciso ir
às
agências dos Estados Unidos (Nasa) e da Europa (ESA). Em
São José dos Campos (SP), pesquisadores do
Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ligado ao Ministério
da
Ciência e Tecnologia, trabalham no desenvolvimento e
aperfeiçoamento de diversos equipamentos e dispositivos.
Entre
eles estão as pontas de diamante ultra-sônicas
CVDentus,
já usadas por muitos dentistas no Brasil, México
e
Israel, entre outros países.

O acessório, inédito no mundo e vencedor de
vários
prêmios nacionais e internacionais, ajusta-se ao ultra-som,
um
aparelho vibratório comum em muitos consultórios,
porém usado basicamente na limpeza dentária. Como
o
atrito pela vibração de alta
freqüência com o
dente gera menos calor que as brocas convencionais, que funcionam por
rotação, a dor é menor e a anestesia
torna-se
dispensável na maioria dos casos. O ruído
é mais
discreto, deixando o paciente menos tenso. “O diamante puro
tem
corte seletivo. Fura tecidos duros, como o dente e o osso, mas
não afeta gengiva, língua ou
lábios”,
explica o dentista Roberto de Paula Macedo, que fez mestrado na
Universidade de São Paulo sobre essas pontas de diamante.
Com
tudo isso, o profissional trabalha mais tranqüilo, seguro,
rápido e melhor.

No Departamento de Clínica Infantil da Faculdade de
Odontologia
da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araraquara, a
ferramenta tem sido usada e estudada há três anos
na
pós-graduação. A professora Rita
Cordeiro diz que,
por serem construídas com diamante maciço, a
durabilidade
é maior que a das brocas convencionais, feitas com uma
mistura
de diamante e metal. “Além disso, suas hastes
longas e as
pontas anguladas permitem maior visão da área que
está sendo tratada”, diz. Aparentemente
revolucionárias, substituirão as brocas comuns?

“Não. É uma tecnologia alternativa, que
proporciona
um tratamento mais agradável. Só que, para
preparar
dentes que receberão próteses, a alta
rotação corta mais rápido e desgasta
mais, sendo,
portanto, mais indicada”, explica a professora Lourdes dos
Santos
Pinto, do mesmo departamento na Unesp. Já a Faculdade de
Odontologia de Bauru, ligada à USP, adquiriu os equipamentos
para serem usados na graduação. “No
quarto semestre
do curso os alunos já aprenderão a
manuseá-los”, afirma Rafael Mondelli, professor de
dentística, endodontia e mate