Cidadania|Futebol social clube

Por Cristina Charão, da Agência Repórter Social
 

Oportunidade
Gols de Luiz Adriano, 19 anos, e Alexandre Pato, 17, formados nas
categorias de base, levaram o Inter à final contra o Barcelona. “Temos
2 mil meninos e meninas. Vou formar 2 mil jogadores? Talvez não. Mas
vou formar 2 mil cidadãos”, diz dirigente do clube

Consagrado como melhor do mundo, ao vencer o
Barcelona, no Japão, em dezembro, o Internacional de Porto Alegre (RS)
tem se destacado também fora dos gramados. O clube gaúcho desenvolve
uma série de ações sociais e foi o autor do primeiro balanço social
feito por um time brasileiro. A relação dos clubes de futebol com os
interesses da coletividade nem sempre é das melhores. São habituais
freqüentadores dos tribunais trabalhistas e da listas de devedores do
INSS. Foi, aliás, a partir de uma imposição do Ministério Público do
Trabalho da 4ª Região, em Porto Alegre – prestação de trabalhos
comunitários – que o Colorado gaúcho acabou se diferenciando.

Em
sua página na internet, o clube admite que a criação do programa Saci
Colorado foi “uma forma socialmente responsável de substituir uma
dívida financeira do S.C. Internacional com o MP, através de ações
sociais em benefício dessas crianças e adolescentes”. As atividades
começaram em 2005 e acabaram tomando corpo, ampliando o público-alvo e
associando-se a outros parceiros, como ONGs, prefeituras e
profissionais de diversas áreas na promoção de atividades artísticas,
esportivas e de lazer, cursos de qualificação e oportunidades de
geração de renda junto a escolas e entidades assistenciais.

Por
suas iniciativas, o Inter conquistou em 2005 o prêmio Responsabilidade
Social da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul e certificado
pela apresentação do Balanço Social no Prêmio Ethos, de São Paulo. O
orçamento anual do Inter é de 100 milhões de reais. Em 2005, foram
aplicados mais de 21 milhões em projetos de geração de renda, saúde e
saneamento, educação e cultura. “É uma obrigação nossa e está em nosso
planejamento”, afirma o vice-presidente Mario Sergio Martins.

Essas
ações, no entanto, ainda são tímidas diante do potencial dos clubes.
Segundo o gerente de Políticas Públicas do Instituto Ethos de Empresas
e Responsabilidade Social, Caio Magri, a diretoria do clube será
procurada no início deste ano para saber se estão dispostos a ir
adiante. “Acreditamos que possa ser um exemplo para o Brasil. Mas será
preciso avançar em aspectos como a transparência da gestão”, declarou
Magri, para quem a responsabilidade social empresarial no futebol é um
filão que pode se desenvolver, mas há dificuldades na implementação do
conceito num setor ainda distante da gestão aberta e do respeito ao
consumidor. “O esporte tem capacidade de agregar a responsabilidade
social de forma muito poderosa, pois clubes e patrocinadores não têm
interesse em manter uma imagem de violência, de administração antiética
ou de ligação com lavagem de dinheiro internacional, como tem
acontecido nos últimos anos”, afirmou.

Magri
acredita que o Inter tem margem para evoluir e que já deu um pontapé
inicial nas preocupações sociais. Além de diversas ações de
voluntariado, existem iniciativas como o projeto Genoma Colorado, cuja
função é mobilizar as crianças das comunidades carentes a se dedicar ao
futebol, ao mesmo tempo em que recebem orientações para promoção da
cidadania. São beneficiados cerca de 7.400 meninos no Rio Grande do Sul
e em alguns estados.

Outro
projeto, chamado de A Escola Rubra, atende mais de mil alunos por ano e
busca ensinar ou aprimorar os fundamentos técnicos e táticos do
futebol, trabalhando a formação social das crianças. “Nas escolinhas,
temos às vezes 2 mil meninos e meninas. Vou formar