Cidadania nao tem cor
O fim do preconceito racial é uma das condições para que a maioria do povo brasileiro tenha plenos direitos.
Avanços vieram, mas ainda há muito a fazer
Embora a questão racial tenha ganhado espaço no Brasil nas últimas décadas, cidadania ainda é limitada para o afro-descendente
As últimas décadas mostraram avanços consideráveis no combate à discriminação no País. Racismo passou a ser crime inafiançável, o movimento negro se fortaleceu e a discussão da questão racial ganhou fôlego.
Muitas iniciativas, como as chamadas ações afirmativas, foram implementadas a partir do governo federal. Na cultura, os afro-descendentes viram sua arte ocupar grandes exposições e sediar espaço específico, como o Museu Afro, criado há dois anos em São Paulo.
Também cresceu a fatia destinada à publicidade, com o surgimento de produtos (principalmente cosméticos) para os negros. E no cinema e na TV despontaram, não mais como coadjuvantes, mas protagonistas, talentos como os de Lázaro Ramos e Taís Araújo.
O dia-a-dia da maioria dessa população, porém, pouco mudou. Segundo estudo recente da própria Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), o País necessita mais para se tornar justo e igualitário. Os dados, que integram a segunda edição da pesquisa Retratos da Desigualdade, realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), mostram que o preconceito está presente em vários aspectos do cotidiano.
A média de estudo entre os brasileiros brancos, por exemplo, é de 7,7 anos, contra 5,8 anos dos negros. O índice de analfabetismo é de 16% para os negros maiores de 15 anos, contra 7% dos brancos na mesma faixa etária.
Lá na frente – Essa diferença vai refletir no mercado de trabalho. Pesquisa do IBGE mostra que enquanto trabalhadores brancos ganham, em média, 3,8 salários mínimos por mês, os negros recebem aproximadamente 2 mínimos por mês.
A cada seis brasileiros pertencentes à elite, apenas um é negro. No outro extremo do ranking de renda, a composição se inverte: a cada seis pessoas pobres, quatro se auto-declaram negras ou pardas.
A situação é mais perversa para a mulher negra, que ganha ainda menos. Segundo o estudo da Seppir elas ocupam as piores colocações e sofrem com as relações informais (como a falta de carteira assinada). Enquanto o salário médio mensal das brancas chegou a R$ 561,70, o das negras ficou na casa de R$ 290,50. Entre os homens a diferença também é gritante: média de R$ 931,50 para brancos e de R$ 450,70 para negros.